Processos de licitação de grandes empreendimentos costumam ser assuntos frequentes em todos os noticiários. Eles são notáveis pelo grande impacto ambiental que geram. Entretanto, pouco ou nada se fala sobre os impactos sociais causados por essas obras. É comum ver moradores de vilas até então pacatas passarem por processos traumáticos como desapropriações e reassentamentos.
Um dos exemplos mais recentes foi a manifestação realizada em frente à Secretaria de Meio Ambiente do Rio de Janeiro, contra a concessão da licença definitiva de operação à Companhia Siderúrgica do Atlântico, em Santa Cruz.
Moradores, pescadores e representantes da comunidade foram recebidos por técnicos do Instituto Estadual do Meio Ambiente. Os empreendedores são acusados de causar danos ambientais na região. Outro exemplo é o Projeto Nova Luz, em São Paulo, que prevê a desapropriação de prédios comerciais e residenciais no centro da cidade. População e Prefeitura estão em atrito.
Essas intervenções são tão complexas que muitas vezes as comunidades afetadas não conseguem nem entender os benefícios e as compensações desses empreendimentos. Fica realmente difícil enxergar progresso tendo suas vidas totalmente assoladas por maquinários imensos.
Na grande maioria dos casos, essa percepção se deve pelo simples fato de o programa de comunicação social estar equivocado. Elaborado de forma errônea, o que deveria ser um processo ordenado e permanente de relacionamento entre o empreendedor e os diversos públicos envolvidos, simplesmente se perde. Tudo não passa de gastos desnecessários e problemas para ambas as partes.
Para evitar esses impasses, cabe ao empreendedor realizar audiências públicas. Elas funcionam como uma oportunidade única para que a comunidade se manifeste. São nessas reuniões que devem ser levantadas as dúvidas, angustias e preocupações – antes que seja tarde. Afinal, não basta que um empreendimento seja transparente. É peciso que ele seja participativo e que, acima de tudo, atenda a um interesse público.
Logicamente, a comunicação possui um papel fundamental, atuando de forma a gerar uma opinião pública favorável e contribuindo para o fortalecimento da reputação institucional nas organizações. Ela cria ainda um diferencial no relacionamento das organizações com seus stakeholders e suas comunidades, estabelecendo uma relação de parceria a fim de obter benefícios socioambientais e contribuir para o desenvolvimento sustentável.
Felizmente, bons exemplos existem. A EMTU, Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos, mantém ações de relacionamento com as comunidades dos Municípios de Itapevi e Jandira. Trata-se do Programa EMTU na Comunidade, que atua junto às comunidades inseridas no Projeto Corredor Viário Metropolitano Itapevi-Butantã. O projeto foi planejado e desenvolvido para atuar durante o processo de licenciamento ambiental, oferecendo apoio aos moradores que serão desapropriados.
Casos como esse comprovam que não se pode subestimar o impacto social e as mudanças no principal componente do sistema organizacional: as pessoas. Estas não podem ser simplesmente transferidas de um local para outro, religadas, reconfiguradas, reestruturando-se de um dia para o outro. As pessoas devem ser preparadas para o processo de mudança.
Para isso, o plano de comunicação com as comunidades lindeiras afetadas e com os públicos estratégicos deve ser realizado de forma planejada e coerente, antecipada ao processo expropriatório e à efetivação dos impactos.
As vantagens são muitas. Estas ações facilitarão as condições e o tempo necessários para que as pessoas possam reorganizar suas vidas. O empreendedor terá, além de ganho de imagem, economia de tempo, recursos e tranquilidade para a efetivação do projeto. Vale a pena investir.
Lilian Reis é relações pública e associada da Communità Comunicação Socioambiental