O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo divulgou recentemente os resultados de uma prova de avaliação do conhecimento de estudantes de sexto ano de escolas médicas paulistas. Dos 533 formandos sabatinados, apenas 16% foram aprovados. O resultado é, no mínimo, assustador. Confirma que a má qualidade generalizada dos cursos de medicina representa um risco à saúde e à vida dos cidadãos.
O caos no processo de formação de médicos no Brasil fica mais evidente ano a ano. A prova do Cremesp, realizada desde 2005, vem reprovando a cada edição um número maior de graduandos. Por isso, faz pelo menos uma década que entidades como o Conselho Federal de Medicina, a Associação Médica Brasileira e a Federação Nacional dos Médicos, entre tantas outras, denunciam o desmanche do aparelho formador de medicina. E as autoridades optam pela omissão se calando diante da abertura indiscriminada de escolas médicas.
Hoje o Brasil tem nada menos que 180 cursos de medicina, o que permite ao nosso país ostentar a posição de recordista mundial em números absolutos. O problema é que temos quantidade demais, mas qualidade de menos. Na maioria das faculdades de medicina, o currículo é insipiente, os docentes deixam a desejar no quesito qualidade e a infraestrutura é precária. Por incrível que pareça, não são todas as instituições que dispõem de hospital-escola, premissa fundamental para o aprendizado à beira do leito, em contato direto com o paciente e suas reais necessidades.
O Ministério da Educação, por intermédio de uma comissão de notáveis, encabeçada pelo Prof. Dr. Adib Jatene, tem buscado nos últimos anos fechar o cerco sobre os maus empresários da educação. Algumas faculdades foram punidas com redução do número de vagas em seus vestibulares, e outras estão na alça de mira, prestes a sofrer sanções. Temos de reconhecer que ações deste tipo são louváveis. Entretanto, pela extensão do problema, são tímidas e lentas demais.
Portanto, é preciso agir rápido e o momento é propício. Em janeiro, aconteceu a renovação de nossas lideranças políticas. Da Presidência da Republica, à Câmara dos Deputados e ao Senado, novos representantes tomaram posse para fazer valer a voz dos brasileiros. Ao menos é isso é o que esperamos; e é para isso que pagamos impostos.
Da classe política recém alçada, exigimos responsabilidade com a saúde da população e a qualidade da nossa medicina. Se medidas enérgicas não forem tomadas, o povo brasileiro estará a cada dia mais sujeito ao mau atendimento nos consultórios médicos e unidades de saúde. Nós, médicos e cidadãos, certamente não admitiremos um absurdo desses.
Antonio Carlos Lopes é presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica