O 13° Congresso de História do ABC, que acontecerá entre os dias 23 e 26 de setembro na FIRP (Faculdades Integradas de Ribeirão Pires), terá a participação da renomada historiadora portuguesa Dalila Teles Vera na mesa de abertura do evento. Entre os temas discutidos, estão “História, Diversidade e Identidade: O que nos une?”.
Natural da Ilha de Madeira em Portugal, Dalila veio para o Brasil com a família em 1957. Residindo em Santo André desde 1972, Dalila desenvolve um intenso trabalho de ativismo e animação cultural com o grupo Livrespaço de Poesia, do qual foi cofundadora e através da Livraria, Editora e Espaço Cultural Alpharrabio, publicou mais de 20 livros no gênero de poesia, crônica, ensaio e diário literário.
Em entrevista ao Mais Notícias, Dalila falou sobre o Congresso do ABC e hábitos de leituras no Brasil.
Mais Notícias: Você participará da mesa de abertura em que será abordada a história do Congresso. O que esse tema representa hoje?
Dalila Teles: Os Congressos de História do Grande ABC e as tarefas da poesia, título que dei para minha fala na abertura atendendo ao honroso convite que me foi feito, reflete não só o envolvimento que mantenho com os Congressos desde o início, quer seja como integrante do Grupo Independente dos Pesquisadores da Memória (GIPEM), quer seja como simples cidadã à busca do conhecimento de sua própria história. Este é um envolvimento que eu qualificaria como amoroso, pois foi através da participação que aprofundei o conhecimento sobre a história local, sobre a minha própria cidade, interesse renovado a cada nova edição. Eu pesquisava a história da literatura no ABC, e continuo a me interessar pelo tema, sobre o qual apresentei uma comunicação no Primeiro Congresso, em 1990 e que, ampliada, foi publicada na Revista Raízes, da Fundação Pró-Memória de São Caetano do Sul. Como minha expressão literária é
MN: Como diretora da Alpharrabio Livraria e Editora, em Santo André, como você avalia o hábito da leitura e o acesso aos livros no Brasil?
DT: Seria o caso falarmos do não hábito da leitura, pois esta é, lamentavelmente, nossa realidade. Vivemos um paradoxo, ou seja, o fato de possuirmos uma das mais pujantes indústrias do livro do mundo, os números impressionam e atiçam a cobiça de editores estrangeiros que nos últimos tempos investem pesadamente no Brasil, e ao mesmo tempo convivermos com assustadoras estatísticas que nos dizem que, sete em cada 10 brasileiros não possui o hábito da leitura e, dentre outras não menos aterradoras revelações, 38% dos nossos universitários são analfabetos funcionais. O governo investe fábulas (e aqui não se trata de metáfora) na compra de livros para distribuição a professores e estudantes de todo o país, mas o número de leitores cai a cada pesquisa. Portanto, vê-se aqui, que a compra de livros não está atrelada à leitura e muito menos ao acesso, mas contribui certamente com o aumento e manutenção dos lucros das grandes editoras beneficiadas. Temos um excelente Plano Nacional do Livro e da Leitura, Planos Estaduais e Municipais estão se instalando, mas, por mais meritórios e que mereçam apoio e aplauso, o problema da leitura segue crônico. No meu modesto modo de entender, só à Educação caberia a solução, ou seja, a tarefa de formar leitores, mas isso está longe de ocorrer, como nos dizem as pesquisas do livro e da leitura.
MN: Qual a sua expectativa para o 13º Congresso de História em Ribeirão Pires?
DT: Sempre formulamos expectativas a cada novo Congresso e uma delas é justamente a sua continuidade. Assim, uma dessas expectativas seria a de que este Congresso pudesse garantir o compromisso de continuidade, com a realização do 14º em Rio Grande da Serra, fechando, dessa forma, um segundo ciclo, ou seja, a realização do Congresso por duas vezes em cada uma das sete cidades. Espero que a partir já deste 13º essa perspectiva se estabeleça e que a ideia de reinventar o próprio Congresso, após estes dois ciclos comece a ser formulada. Proporia, inclusive, que a própria história do Congresso comece a ser levantada desde já e que o mesmo seja objeto temático do Congresso que daria início do terceiro ciclo, retomado o que foi discutido e proposto e não cumprido. E isso, convenhamos, não é pouco.