Como escolher um bom cavalo de lida e quais os cuidados básicos com ele?

Por Eliana Maciel de Goés – Médica Veterinária

O primeiro ponto na hora de adquirir um animal para trabalho numa fazenda é definir qual o objetivo: sela ou tração? O cavalo que irá lidar com o gado deve ser um bom animal de sela e aquele que irá trabalhar com carroça ou arado tem que ter a força de um animal de tração. Um bom animal de sela deve ser mediolíneo (relação entre o comprimento do corpo do ombro até a nádega e a altura de cernelha), o que facilita a transmissão de forças de propulsão no cavalo. Deve ter também um bom arqueamento de costelas, permitindo que as pernas do cavaleiro se fixem de maneira adequada no animal e que o cavalo tenha uma boa condição cardiorrespiratória, já que a caixa torácica abriga o coração e os pulmões.

Para se ter um bom rendimento desses animais e diminuir os problemas de saúde, uma boa nutrição é essencial

O cavalo de sela é mais esguio, tem os ossos mais finos e tendões bem demarcados com articulações descarnadas. A pele mais fina facilita a transmissão dos comandos de perna do cavaleiro e a troca de calor com o ambiente, o que é bom, mas por outro lado, é mais sensível e propensa à formação de feridas.
Já um animal para tração, que irá trabalhar puxando pesos consideráveis (sem excessos, é claro!), deve ter os membros mais curtos e possuir ossos robustos, tendões e articulações menos perceptíveis e pele mais grossa. O temperamento do animal, que é a reação do indivíduo a estímulos externos, é uma característica de caráter hereditário e pode ser: sanguíneo, muito reativo; linfático, pouco reativo e ativo, intermediário. Devido à sua maior rusticidade, muares são adaptados a diversas condições de ambiente, áreas íngremes rochosas, e aos ecto e endoparasitas.

Em relação ao estado de saúde do cavalo, o exame completo deve ser realizado observando-se visão, dentição, audição, ausência de claudicações e exame de anemia infecciosa equina deve ser exigido, não só para não adquirir um animal de baixa performance, como também para evitar o risco de contágio aos outros animais da tropa. É importante ressaltar que a AIE é uma doença controlada pelo Ministério da Agricultura e o sacrifício dos animais doentes é obrigatório e vacinas contra tétano e raiva (zoonoses).

Outro quesito é o adestramento do cavalo, no qual ele deve atender prontamente aos comandos do cavaleiro. É bom lembrar que é preciso que a doma de um animal com essa finalidade aconteça acima de três anos e meio, para que ele tenha saúde e maior longevidade. Com essa idade, tanto a coluna quanto as articulações do cavalo já estão maduras.

Para se ter um bom rendimento desses animais e diminuir os problemas de saúde, uma boa nutrição é essencial. Na alimentação, é de extrema importância que o sal mineral seja específico para equinos, visto que as exigências desta espécie são bem diferentes das dos bovinos. Além disso, como o equino perde muito sódio e potássio no suor, a necessidade de NACL é redobrada. O equino é um animal que tem um apetite bastante seletivo e não come Braquiária (tipo de capim). É muito importante também observar a relação Ca/P (cálcio e fósforo) da forrageira e suplementar, pois o desbalanço desses minerais causa reabsorção óssea, refletida em um problema conhecido como cara inchada. Claudicações intermitentes também são observadas nestes casos. Muito cuidado com silagens e cana, pois fermentam muito rápido e o risco de cólica é real. O fornecimento de ração pode ser necessário para que as necessidades energéticas sejam supridas.

O Amblyoma Cajennense, carrapato vetor da Febre Maculosa (zoonose), parasita os equinos e devem ser controlados com banhos carrapaticidas com produtos piretróides de 7 em 7 dias, de maio a setembro, ao amanhecer ou ao anoitecer para evitar o risco de intoxicação. A vermifugação deve ser feita no mínimo duas vezes ao ano. Como os instrumentos de trabalho dos equinos são os cascos, atenção com limpeza diária e casqueamento, essenciais para evitar a podridão dos cascos e rachaduras. A qualquer sinal de manqueira é preciso que o cavalo seja afastado do trabalho até que o problema seja resolvido.  Com relação às pisaduras, é recomendado que a ferida seja tratada e se evite o uso do animal até a cicatrização da mesma. Para evitá-las, o cuidado com a tralha é o ponto chave. Feridas em equinos devem ser tapadas (curativo e repelente ou unguento) devido à presença de moscas. A escovação diária retira a poeira e protege a pele do animal, assim como uma boa ducha depois do dia de trabalho.

Ter uma boa tropa, então, não é só questão de escolha na hora da aquisição, mas principalmente de cuidados com a saúde e o bem-estar da mesma. Lembrando sempre que todo animal merece respeito!

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