Gláucio Gonzales – Membro do Comitê Horizontal Contra o Aumento das Tarifas
Hoje, no dia 28 de janeiro, em que escrevi esse texto, as centrais sindicais se dizendo traídas por Dilma e seu discurso de que “não se mexe em direitos trabalhistas nem que a vaca tussa” foram às ruas, pois direitos foram retirados mesmo sem que se tenha notícia de qualquer bovino ter tossido.
A opinião geral sobre a origem do direito tem da falsa ideia que ele é nascido dos costumes e não de uma luta contra a opressão. Ignora, por exemplo, que a redução da jornada de trabalho que temos hoje não veio de Vargas, mas sim de um grupo de trabalhadores organizado em 1917 no escondido distrito de Ribeirão Pires, que fizeram isso à frente de uma greve geral no começo do século contra a República da Espada. Pouca gente de Ribeirão sabe disso, assim como a atual Gestão não sabe qual a relação dos manifestantes de outros municípios sobre questões atuais da Prefeitura.
A quebra de confiança da classe política com o povo não é novidade. Algumas coisas como a falta de água, o aumento da tarifa são decididas e impostas á população lhe restando apenas duas opções: se resignar ou lutar. Alguns ainda podem estar apáticos ou indiferentes com os atos, porém todo usuário do transporte coletivo tem interesse na redução da tarifa.
Resistir aos desmandos dos poderosos é um ato de sobrevivência e melhor qualidade de vida, o que pode parecer para amantes da ditadura militar e do silêncio do povo uma forma de “desordem pública”, mas na verdade é uma forma de viver.
Vemos que é possível fazer política frente aos governos mesmo sem partidos à frente. Prova do ato feito no Parque Andreense, que estava ilhado socialmente. O bairro que fechou a Tibiriça por sua passagem ter subido para R$ 5,50. O que os leva, os que podem continuar trabalhando, a gastar 18 reais por dia para ir e voltar até o centro de Santo André.
Manifestações são gritos dentro do sufoco da vida que é imposta, mesmo as que não estamos organizando não são pautas vazias, nem são ações genéricas sem sentido. Pelo menos não as atuais, que não são só por 20 centavos e nem por 0,50 e sim por 7,00 ou até 7,40.
O que seria bom para todos é discutir a mobilidade urbana, para isso as pessoas se usam dos meios que podem para sobreviver e se defender contra os opressores. A discussão ética ou moral sobre isso já não é algo que deveria ser pautado e fica para outro dia, por hora tenham claro que queremos sim uma redução da tarifa para ampliar o acesso do trabalhador a cidade e maior transparência sobre as licitações das empresas de transporte da região. E sentimos muito que alguns não vejam essas pautas como relevantes.
Democracia é barulho, é o ruído de várias vozes que devem ser respeitadas. E se alguém discordar, isso é parte do processo de gerar ainda mais vozes. Tomara que o som de vozes debatendo um dia substitua o de bombas de efeito moral.