As mulheres já comandam quase quatro em cada dez residências. É o que apontou os dados preliminares do Censo 2010, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na última semana.
Em dez anos, o número de brasileiras chefes de família praticamente dobrou. Em 2000, elas eram 11 milhões; passando para 22 milhões no ano passado. No Grande ABC, há dez anos, 166.818 lares tinham à frente a figura feminina, aumentando para 314.803 em 2010, um crescimento de 88,71%.
A diretora escolar, Regina Santana, 41 anos, é uma dessas mulheres. Mãe de Larissa, 18 anos e Vinícius, de 11, ela confessa que não é fácil chefiar um lar. “É uma jornada tripla de trabalho com uma grande responsabilidade em ser excelente mãe, ótima profissional e doméstica exemplar. Também, sofremos discriminação da sociedade e, às vezes, até da própria família. Mesmo nos dias de hoje, o preconceito é grande, principalmente por ser uma mulher independente e divorciada. Somos ‘cobradas’ constantemente, dá até vontade de desistir do sacerdócio, mas como ‘vontade dá e passa’, é preciso respirar fundo, voltar à calma e seguir a vida”, fala.
Mesmo tendo que trabalhar arduamente para garantir o sustento do lar, a convivência familiar é estritamente preservada. “Participamos muito da vida um do outro, prezo estarmos à mesa pelo menos uma refeição por dia juntos e mantenho uma comunicação diária e efetiva, mas ainda assim, é difícil administrar todos os conflitos e problemas”.
As mulheres contam com outro obstáculo na tarefa de ser “pai e mãe”. De acordo com o IBGE, a renda delas representava apenas 70% da renda dos homens em 2010. O rendimento médio mensal das mulheres foi calculado em R$ 983, enquanto o dos homens foi de R$ 1.392.
“Mesmo ocupando cargos similares, homens e mulheres ainda possuem remunerações diferentes, ou seja, nós mulheres, temos que fazer sempre ‘muito mais’ com muito menos, tendo como maior desafio a educação dos nossos filhos e educar dá trabalho…”, ressalta Ana Soares, 40 anos, que também se divide entre o trabalho no departamento financeiro de uma indústria, o sustento da casa e a educação das filhas – Mariana, de 19 anos, e Marina, de 16.
Há três anos assumindo as rédeas do lar, Ana conta que o mais difícil é ter que ser o alicerce da família o tempo todo. “É uma responsabilidade muito grande tomar decisões no sentido de educar sozinha as minhas filhas. Tento me colocar no lugar delas, não ser tão careta e falar a mesma linguagem… Missão difícil, porém, não impossível”.