Artigo: “São todos iguais!” Será mesmo?

Por Marcio Marques: Publicitário, Editor, pós-graduado em Ciência Política, ex-Secretário de Comunicação e ex-Secretário-Adjunto de Desenvolvimento Econômico e Turismo em Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra.

Os recentes – e antigos – acontecimentos no mundo político, que acompanhamos com ojeriza e indignação cotidianamente, como a operação Estafeta, da Polícia Federal, em agosto, que afastou o prefeito e o presidente da Câmara de São Bernardo do Campo e outros investigados por desvio de recursos públicos, ou como em outra operação que envolveu o dono da Ultrafarma e de outras redes de varejo e um auditor da Secretaria da Fazenda de São Paulo, com base na outrora pacata Ribeirão Pires, num bilionário esquema de sonegação de tributos, a polarização, a iminência de uma 3ª Guerra Mundial, enfim, em todas essas tristes notícias, o que mais me chama a atenção é a reação quase uníssona das pessoas ao comentar os casos: “Esses políticos são todos iguais, não salva um!”…

Tal percepção – que é a de 9 em cada 10 brasileiros – me trouxe à baila um tema que já abordei algumas vezes, em artigos anteriores, mas que insiste permear a opinião pública sempre que algo do tipo é noticiado: a mania que temos de colocar tudo e todos no mesmo balaio, generalizando e considerando todos, sem exceção, “farinha do mesmo saco”, inclusive quem nem é da política. Mas acredite: Não, não são todos iguais. Afinal, não somos todos iguais.

Essa coisa de generalizar é uma idiossincrasia humana que precisamos ter muito cuidado ao praticá-la. Na seara da política, é justamente por pensar assim, que “são todos iguais”, que a cada eleição a abstenção aumenta, incentivando e favorecendo os piores candidatos, que podem se eleger com um percentual mínimo do eleitorado, que em muitas vezes não chega a representar nem um décimo da população. É assim que chegam às cadeiras do poder, com a caneta na mão, pessoas totalmente despreparadas, com propósitos e interesses pessoais escusos e, na maioria das vezes, ilícitos.

Enquanto o brasileiro for um povo analfabeto funcional (no sentido pedagógico e político), enquanto acreditarmos em “salvadores da pátria”, em “pessoas” e não em projetos, seja à esquerda ou à direita, estaremos sujeitos à deterioração da atividade política como um todo, em todas as esferas dos poderes, inclusive no Judiciário, que não é eleito pelo povo. Lembremos: os políticos que lá estão, ocupando os poderes, não são extraterrestres ou anjos caídos do céu. Lá estão porquê foram eleitos, escolhidos pelo povo, ainda que por meios repulsivos, como a tão comum compra e venda de votos.

Tarefa árdua, quiçá utópica, mudar este cenário e o nosso sistema político, mas urge que as pessoas de bem o façam, se colocando à disposição para os cargos eletivos como candidatos ou escolhendo melhor dentre os que se apresentam, sob pena de atingirmos um ponto de não-retorno e mergulharmos de vez numa autocracia ou coisa pior. Porque sim, pode piorar, e muito! O poder não admite vácuo. Se os bons não se apresentarem, os maus seguirão ocupando as cadeiras.

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