Artigo: Assistencialismo agrava apagão de mão de obra e ameaça crescimento econômico

Enviado pela Professora da FGV e Deputada Federal por SP Adriana Ventura

O Brasil enfrenta um paradoxo que preocupa empresários de todos os setores: enquanto milhões de pessoas em idade produtiva permanecem fora do mercado formal, empresas de indústria, agro, serviços, logística e construção civil relatam dificuldades crescentes para contratar.
Levantamento da Fundação Getulio Vargas (FGV) e da Confederação Nacional do Comércio (CNC) mostra que quase 60% das empresas brasileiras enfrentam escassez de mão de obra, índice superior à média global. Em áreas intensivas em qualificação mínima, como construção civil, logística e tecnologia da informação, a falta de trabalhadores chega a 84% a 91% das funções críticas.

O cenário se torna ainda mais preocupante diante de um dado revelador: em 12 estados já há mais beneficiários do Bolsa Família do que empregos formais. Embora o programa seja essencial como rede de proteção social, especialistas apontam que seus efeitos colaterais desestimulam a formalização. Muitos brasileiros evitam assinar carteira para não perder o benefício, migrando para a informalidade instável.

Mato Grosso é um exemplo emblemático. Com taxa de desemprego de apenas 2,6% em 2024 — nível próximo ao pleno emprego — empresas do agronegócio e da indústria mantêm vagas abertas por meses. Mesmo oferecendo salários acima da média, encontram barreiras na falta de qualificação e na preferência pelo assistencialismo. O custo da formalização também pesa. Estudo recente mostra que empregar alguém por um salário mínimo custa R$ 2.575 ao empregador, enquanto o trabalhador recebe apenas R$ 1.100 líquidos. “É caro para quem paga e pouco para quem recebe”, resume o levantamento.

Outro fator é o comportamento da nova geração. Muitos jovens preferem a informalidade ou o trabalho em aplicativos, em busca de flexibilidade e ganhos imediatos, além da descrença no sistema previdenciário — cujas projeções apontam aposentadoria apenas a partir dos 72 a 78 anos.
As consequências são visíveis: obras atrasadas, exportações em risco, produtividade comprometida e crescimento do PIB abaixo do potencial. No médio prazo, a queda da produtividade reduz a arrecadação e ameaça até a sustentabilidade dos próprios programas sociais, criando um círculo vicioso

Experiências internacionais indicam caminhos. Em Luxemburgo, por exemplo, o benefício é condicionado à busca ativa de emprego: quem recusa vagas sem justificativa perde a assistência. Especialistas também defendem a redução dos encargos trabalhistas, maior flexibilidade nos contratos e políticas de qualificação profissional voltadas às demandas reais das empresas.

O dilema brasileiro é claro: manter políticas assistenciais que aliviam no curto prazo mas travam o futuro, ou reequilibrar o modelo, garantindo ao mesmo tempo proteção social e oportunidades reais de trabalho.

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