Artigo: A ditadura dos partidos e a democracia da alienação

Este artigo foi escrito por Paulo Franco na edição 26 da revista Mais Conteúdo publicada em agosto de 2014.

O povo brasileiro jamais foi plenamente livre para escolher os seus presidentes, governadores ou prefeitos. Isto ocorre porque há, pelo menos, dois princípios absolutamente equivocados no que diz respeito à nossa democracia: O primeiro é a ideia simplista de que nos países democráticos, o governo emana do povo em nome de uma soberania popular. O segundo é o senso comum de que para existir democracia é preciso haver partidos políticos.   Em síntese, a nossa democracia é uma grande farsa, já que apenas e tão somente os partidos têm o poder de escolher e determinar em quem o cidadão comum pode ou deve votar. Os partidos, portanto, funcionam como filtros do mal e os figurões escolhidos para serem candidatos, em especial aos cargos executivos, via de regra, são os principais maestros dos grandes esquemas, os que têm mais força junto às empreiteiras e a outros instrumentos da corrupção, que fatiam escandalosamente o poder e geram os mensalões de diversos tipos que sempre existiram e pelo andar da carruagem continuarão a existir. E ao povo resta ainda a culpa de não saber votar, quando na realidade é apenas obrigado a referendar o coronel de uma determinada legenda que normalmente está atrelada aos interesses escusos de outras tantas que forjam apoios em troca de pedaços do governo. É como se fosse uma grande pizza.  E este sistema maléfico e vicioso acaba afastando do processo eleitoral as pessoas de boa fé e ainda favorece a propagação da ideia de que a política é coisa de gente safada. Isto gera um grande prejuízo para a evolução da sociedade e para esta bela ciência, nobre filha da filosofia.

Vale lembrar que em termos históricos esse modelo de democracia representativa é muito jovem. Ainda está na casa dos 200 anos de existência. Outros caminhos serão testados através dos séculos em busca de uma democracia de fato. Afinal, a ideia de representatividade surgiu para fazer valer a vontade do povo na administração da coisa pública, para garantir a paz social, os direitos humanos e o manuseio ideal das riquezas das nações. Entretanto, Aristóteles (384 a.C. / 322 a.C.), no livro “A Política”, já apontava a demagogia como a corrupção da democracia. E a nossa está repleta de falácias ideológicas que só se sustentam em uma pátria cicatrizada pela ignorância, pela alienação hereditária oriunda da secular ausência de escolas de qualidade. As nossas escolas, infelizmente, não privilegiam em seus currículos a arte, a sociologia, a filosofia e muito menos a política. O resultado é uma grande massa que, como gado, assiste, aplaude e torce por partidos que arrastam os fiéis das igrejas, das escolas de samba e dos times de futebol com populismos e assistencialismos inócuos à evolução da pátria. A insensatez é tão grande que para cada nova mazela que surge em nosso meio político, tem sempre um desinformado que volta a defender o retorno de algum tipo de ditadura, ao invés de lutar pela ampliação das liberdades e direitos em nome de uma democracia de verdade.

Pois bem. Não devemos abraçar a defesa do fim dos partidos porque isto poderia abrir espaços para tiranias indesejáveis. Mas o fim do voto obrigatório, sim! O fim da obrigatoriedade da filiação partidária para que um cidadão limpo possa se candidatar, sim! Quem disse que para que uma pessoa seja digna, idônea, competente e comprometida com uma sociedade justa, ela tenha que se atrelar a conluios aonde a falta de vergonha na cara, normalmente, é a grande senha para abrir as portas de suas fileiras de bandeiras esvaziadas e símbolos que se misturam e não representam nada?    Há uma estrela agarrada em Brasília e um tucano com garras em São Paulo. E já faz mais tempo do que sobreviveram diversas ditaduras no decorrer da história humana. Observe, caro leitor, que são duas bandeiras praticamente idênticas e defensoras do mesmo neoliberalismo privatizador e destruidor dos direitos dos trabalhadores. O partidarismo compulsório, portanto, não garante nem a liberdade e nem a lisura em nome dos direitos mínimos do cidadão.   E já que não são mais possíveis as assembleias populares da democracia ateniense, o ideal seria, pelo menos, que o cidadão comum, desvinculado de seitas e partidos, pudesse se candidatar a qualquer cargo público, desde que plenamente limpo perante as leis da pátria. Com toda certeza, nunca mais o voto do povo ficaria refém da obrigatoriedade de ser depositado no colo das Dilmas, dos Aécios ou de mais alguns poucos iluminados que sobrevivem da democracia da alienação.

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