Por Liége Zampol, artista plástica e proprietária da Estância da Arte
Rodin rompe os paradigmas da técnica e do conceito do que é uma escultura.
Entendo que a escultura anterior ao século XIX estava envolta em dogmas estabelecidos pela religião, em especial para a decoração das igrejas.
Com o temperamento especialíssimo de Rodin, encontra-se a liberdade, o encorajamento de outros artistas à aventura da escultura. A ênfase está no corpo humano. De fato, é aí que se entende toda a modernidade de Rodin, onde grande número de suas figuras foram mal aceitas, rejeitadas até pelo público. O poder emblemático de seus trabalhos o colocava muito à frente de seu tempo, daí a incompreensão.
Rodin negava princípios acadêmicos. Tratava apenas do essencial. Mas ia mais longe quando suprimia os detalhes. Sua obra transita num renovado sentido de naturalismo, porque o tema do corpo humano, matéria e ser, gera um elo entre o artista e a matéria.
Diferentemente da escultura acadêmica de seu tempo, feita para ser vista de um só ponto frontal e de baixo para cima, na escultura de Rodin todos os pontos são importantes. Trabalhava as peças para que o espectador pudesse andar em volta, olhar em qualquer sentido, sempre encontrando um novo aspecto, numa comunicação constante.
Representou o corpo humano com um mínimo de abstração ou distorção estilística, ou seja, como ele é de fato. Esculpiu como que evocando sentimento. Proporcionou aos artistas uma oportunidade para reconsiderarem o que é a arte e aumentarem sua importância cultural, mesmo que isso exigisse o rompimento com as convenções artísticas e sociais, já que isso se considerava fora do “bom gosto”.
Numa época de grandes disparidades entre as classes sociais, os resultados eram sempre considerados como uma provocação. A realidade de Rodin estava em libertar a arte das convenções sociais e explorar a forma como a sociedade molda a vida das pessoas.
O mistério, a sensualidade, o sonho, tudo isso é fruto do processo criativo de Rodin e nos oferece a oportunidade de rever conceitos e a nossa própria capacidade de compreensão.