Alerta: pesquisa revela baixo teor de nutrientes na alimentação do brasileiro

Na última semana, a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2008-2009, módulo “Consumo Alimentar Individual”, financiado pelo Ministério da Saúde e conduzido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou dados preocupantes: o brasileiro combina uma dieta tradicional, baseada no arroz e feijão, com alimentos compostos por baixo teor de nutrientes e alto conteúdo calórico. E não é só isso: há também o crescente consumo de refrigerantes e refrescos, e a ingestão reduzida de frutas, verduras e legumes.

O brasileiro combina uma dieta tradicional, baseada no arroz e feijão, com alimentos compostos por baixo teor de nutrientes e alto conteúdo calórico

De acordo com as informações da POF, apesar de haver uma ingestão satisfatória de proteínas, a prevalência de consumo excessivo de açúcares foi observada em 61% da população, já a de gorduras saturadas, em 82% das pessoas. O consumo insuficiente de fibras foi observado em 68% dos brasileiros. A amostragem foi feita com 13,5 mil domicílios, com base em análises de medidas no consumo alimentar individual de pessoas com 10 anos ou mais de idade.

Excesso de sal – Outro sinal de alerta: A POF 2008-2009 confirma que os brasileiros consomem mais sódio do que o recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que é de até 5g diárias. De acordo com a pesquisa, o consumo médio no país está em 8,2g diárias. A nutricionista Aline Biaseto Bernhard explica que o principal problema associado ao consumo excessivo de sal é o risco de desenvolver hipertensão arterial (pressão alta), que é responsável por cerca de 13% das mortes causadas por doenças cardiovasculares (AVC, infarto, entre outras). “A necessidade de sódio de um adulto ou adolescente saudável é de 500mg ao dia, que equivale a 1,2g de sal comum (cloreto de sódio). Para crianças essa necessidade é diminuída e varia conforme a idade, em idosos acima de 70 anos essa necessidade também é reduzida. Lembrando que até os seis meses todas as necessidades da criança são supridas pelo leite materno, com raras exceções”, fala ela, que acrescenta: “Vale ressaltar que o sódio (parte do sal associada a problemas de pressão) não está presente apenas no sal. Alimentos industrializados têm bastante quantidade de sódio. Se você comer uma salsicha e meia ou duas fatias de mortadela já comeu todo o sódio que precisava para um dia (como se tivesse comido 2g de sal); se comer um macarrão instantâneo já atingiu o limite recomendado pela OMS (5g). Com uma brincadeira matemática, se transformarmos a quantidade de sódio de alguns alimentos em sal de cozinha, levamos um susto: temperos industrializados, 5g de sal em um pacotinho; linguiça, 1,5g de sal em 1 gomo; presunto, 1g de sal em duas fatias; pão francês, 1g de sal em uma unidade”.

Em abril, a indústria de alimentos processados assinou um acordo com o Ministério da Saúde que prevê a redução gradual na quantidade de sódio presente em 16 categorias de alimentos. Algumas metas devem ser cumpridas pelo setor produtivo até 2012 e aprofundadas até 2014. No caso das massas instantâneas, por exemplo, a diminuição anual será de 30%.

Excesso de açúcar – A maneira como a iguaria vem sendo consumida também é preocupante. De acordo com a POF 2008-2009, 61,3% da população consomem açúcar em excesso. A média de energia diária proveniente do açúcar livre para cada pessoa foi 14% do total, quatro pontos percentuais acima do máximo recomendado – mais de 10% é considerado “consumo excessivo”. Entre os altos níveis de inadequação na ingestão de açúcar, mais uma vez estão os adolescentes: 74% dos meninos e 83% das meninas entre 14 e 18 anos consomem mais açúcar do que o recomendado.

Na faixa etária anterior, de 10 a 13 anos, a frequência é ainda maior: 82% das meninas e 80% dos meninos abusam do açúcar livre, que é o adicionado nos alimentos. Esse percentual é superior ao dos adultos, grupo em que o consumo excessivo foi observado em 67% de homens e mulheres.  Soma-se a esse perfil o menor consumo dos alimentos protetores, tais como frutas, verduras, legumes e cereais integrais.

“Costuma-se dividir os alimentos em grupos alimentares baseando-se nos nutrientes que eles mais fornecem. O grupo dos açúcares e doces fornece principalmente energia, ou seja, calorias, portanto colabora com o excesso de peso e com todas as doenças associadas a ele (diabetes, pressão alta, doenças cardiovasculares, etc.), isso sem falar nas cáries. A recomendação geral é de uma porção ao dia, ou seja, 1 colher de sopa de açúcar ou 2 colheres de sopa de mel ou quatro quadradinhos de chocolate. O açúcar refinado, aquele açúcar comum que utilizamos em casa, não é necessário para nosso corpo, se desconsiderarmos o prazer de comê-lo”, explana Aline.

Frutas, verduras, legumes e cereais integrais fazem muita gente “torcer o nariz”, mas não tem choro, nem vela: são fundamentais para a saúde. E como ver esses alimentos com outros olhos? Veja na reportagem “Verduras e legumes: como integrá-las à refeição quando elas não são tão bem-vindas“.

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