Há estimativas de que, no mundo, faltem hoje milhões de profissionais de saúde. Essa é a trágica realidade das populações de países pobres e ricos. Realidade compreensível, mas inaceitável nos países pobres; igualmente inaceitável, mas incompreensível em países desenvolvidos. Como aceitar que, em um Brasil, proclamado emergente e dito autossuficiente, deixe centenas de municípios e milhares de brasileiros desassistidos, dispondo de mais de 340 mil médicos e 170 mil enfermeiros em atividade?
Coexistem, de fato, e em muitos países, excesso de profissionais de saúde em algumas áreas – as mais desenvolvidas – e absoluta escassez em outras – as esquecidas por seus governantes.
As razões para a distribuição iníqua de profissionais de saúde são muitas, complexas às vezes, e interdependentes sempre. Incluem-se aqui riscos ocupacionais, violência física e psicológica, sobrecarga de trabalho, remuneração insuficiente, oportunidades limitadas de desenvolvimento na carreira. Predomina nesse contexto a péssima qualidade do ambiente de trabalho, prejudicando o desempenho e afastando dele os profissionais. Esse é, sem dúvida, um dos mais graves problemas de saúde do mundo de hoje. É necessário transformar o ambiente de trabalho, de sorte a atrair e fixar aqueles que trabalham com saúde, melhorando a satisfação e o resultado da assistência às pessoas.
Surpreende que, apesar do acúmulo de evidências nesse campo, as autoridades encarregadas de geri-lo continuem a ignorar as soluções e insistam em propostas vazias, gastando precioso tempo, energia e dinheiro público tentando legitimá-las. Vem deles apenas programas desgastados como a importação de profissionais do exterior, serviço social obrigatório, descaracterização do escopo das profissões e transferência de responsabilidades sem correspondente qualificação, farta distribuição de diplomas tentando distribuir profissionais por transbordamento, limitando as alternativas sorte a tangê-los ao que julgam ser a prioridade do momento.
A lista de despautérios é longa e, infelizmente, não se limita às brevemente citadas acima. Até quando nos deixaremos assim mal conduzir?
Até quando nossa sociedade tolerará falta de seriedade e competência no trato de assuntos que lhe dizem tão de perto?
José Luiz Gomes do Amaral – Presidente da Associação Médica Brasileira
Maria Goretti David Lopes – Presidente da Associação Brasileira de Enfermagem