Diferentemente das mulheres, os homens têm certa resistência quando o assunto é cuidar da saúde e frequentar um médico regularmente para fazer exames de prevenção.
Um levantamento realizado pelo Centro de Referência em Saúde do Homem, da Secretaria de Estado da Saúde, apontou que 60% dos 2,8 mil pacientes que são atendidos por mês na unidade apresentam algum tipo de patologia e não têm conhecimento da doença. A constatação é resultado da demora em procurar o especialista, atrasando o diagnóstico e fazendo com que uma simples complicação passe a ser um quadro grave, no qual muitas vezes a única solução é a intervenção cirúrgica.
Ir ao médico apenas quando sente fortes dores, ou há grande dificuldade para urinar, é uma atitude comum entre os homens. “Eles se consideram super-homens e acham que vir ao consultório é sinônimo de fraqueza, mas as consultas de rotina são capazes de evitar desde as doenças comuns, como o crescimento benigno da próstata, até as mais graves, como câncer”, fala o médico responsável pelo serviço de Urologia, Joaquim Claro.
Das pessoas atendidas mensalmente no Centro de Saúde do Homem, aproximadamente 250 delas passam por alguma cirurgia, seja para a retirada de cálculos renais ou para operar a próstata. “Na maioria dos casos a prevenção poderia evitar estas intervenções cirúrgicas e o paciente seria tratado apenas com medicamentos”, destaca o urologista.
Preocupado com essa resistência dos homens, o Ministério da Saúde lançou, em 2009, a Política Nacional de Saúde do Homem, com o objetivo de facilitar e ampliar o acesso da população masculina aos serviços de saúde. A iniciativa é uma resposta à observação de que os agravos do sexo masculino são um problema de saúde pública. A cada três mortes de pessoas adultas, duas são de homens. Eles vivem, em média, sete anos menos do que as mulheres e têm mais doenças do coração, câncer, diabetes, colesterol e pressão arterial mais elevadas. Por meio dessa iniciativa, o governo federal quer que, pelo menos, 2,5 milhões de homens na faixa etária de 20 a 59 anos procurem o serviço de saúde ao menos uma vez por ano.
A política tem um plano dividido em nove eixos de ação a serem executados até este ano de 2011 e prevê o aumento de até 570% no valor repassado às unidades de saúde por procedimentos urológicos e de planejamento familiar, como vasectomia, e a ampliação em até 20% no número de ultrassonografias de próstata.
O Ministério da Saúde ressalta que ao ir aos serviços de saúde apenas quando a doença está mais avançada, é necessário procurar um especialista, o que gera maior custo para o SUS (Sistema Único de Saúde) e, sobretudo, sofrimento físico e emocional do paciente e de sua família, quando eles poderiam ser atendidos em um posto de saúde próximo de casa. Isso se tivessem atitude contrária.
Graças a essa campanha e ao destaque com que o tema vem sendo tratado na imprensa, essa situação vem se revertendo. Dr. Sérgio Ricardo Cavalcante Galindo, urologista do Hospital Ribeirão Pires, já vem percebendo uma mudança no comportamento de seus pacientes. “A mídia vem trabalhando em cima disso, e está conscientizando os homens a procurarem o médico mais cedo. Atualmente, a gente percebe que a maioria dos homens vem preventivamente. Antigamente, a gente já detectava pacientes, principalmente com câncer de próstata, em estágio adiantado, quando o câncer já estava metastático. Hoje, habitualmente, a detecção do câncer de próstata é feito precocemente, porque eles já estão se conscientizando. Lógico que tem uma faixa da população que é resistente ainda, pois eles acham que vão ser menos homens se frequentarem o urologista e fazer os exames preventivos. É preciso quebrar esse paradigma, mas hoje isso está se invertendo”.
O mais temido entre os homens é, sem dúvida, o exame de próstata. Há ainda o preconceito e a vergonha, fazendo com que boa parte da ala masculina não realize o exame de toque, fundamental para diagnóstico do tumor. “Resistir de ir ao médico só vai fazer mal para eles. Quando eles só vêm ao médico quando sentem algum sintoma, as chances de que o câncer esteja avançado é mais fácil. Por isso, é importante fazer a prevenção. Todos podem ter câncer, o fato das mulheres, por exemplo, fazerem a prevenção de câncer de colo uterino e de mama, se detectado no estágio inicial, a chance de cura é maior e isso serve também para o homem”. O médico ressalta que o exame não é nenhum bicho de sete cabeças. “Não há nada demais no exame da próstata. É feito um exame de sangue, de urina, de ultrassom e é feito um exame físico, como acontece com as mulheres, e nenhuma delas deixa de ir ao médico por causa disso”. O exame do toque também é muito rápido: dura de 10 a 15 segundos.
O Ministério da Saúde e a Sociedade Brasileira de Urologia recomenda que o exame de prevenção deva ser feito a partir de 45 anos. Quando há casos de câncer de próstata na família, o recomendado é iniciar aos 40 anos.
O médico Joaquim Claro, do Centro de Referência em Saúde do Homem, da Secretaria de Estado da Saúde, ressalta: “O acompanhamento médico deve ocorrer desde o nascimento, passando pela puberdade e que, após os 40 anos, o homem precisa comparecer ao médico pelo menos uma vez ao ano. A prevenção é fundamental para se viver mais e melhor”.