O eleitor em geral, mais especialmente os chamados espertalhões, não tem o mínimo escrúpulo em enganar políticos, e as vítimas prediletas são os candidatos novos, ainda sem experiência em lidar com essa gente. Levar vantagem sobre políticos e candidatos não é crime e nem sequer pecado no entender daqueles que usam os mais variados estratagemas para arrancar deles dinheiro ou outro tipo de benefício.
Um dos mais conhecidos é a venda do voto, que eles vendem os da família toda para vários candidatos diferentes. Outro golpe conhecido é a do remédio para o filho ou a mãe doente, além da falácia da receita de óculos, que os vigaristas apresentam já acompanhada de dois ou mais orçamentos fornecidos por óticas.
Quando fui candidato em 92, essa moda de conceder cestas básicas e mandar aviar receitas era fato corriqueiro, e teve um sujeito que me apresentou uma receita de óculos para a filha que fiquei de dar resposta mais tarde. Era uma estratagema para levantar dados do eleitor e checar onde votava. Quando fui ao comitê do partido pegar essa e outras informações, o atendente assim que viu o nome do cidadão já me alertou: é golpe, ele já contatou vários dos nossos candidatos e teve gente que deu o dinheiro, mas ficou com vergonha de confessar que foi enganado.
Quando o candidato pede o voto para um amigo, muitas vezes o mesmo já tem compromisso com outro ou simplesmente acha que amizade não tem nada a ver com política e que esse amigo não será um bom representante do povo, mas e como negar o voto ao velho amigo? Melhor mentir, acredito que que a maioria das pessoas mentem nessas circunstâncias, achando que sua mentirinha piedosa e visando preservar uma amizade nunca vai ser descoberta. Muitas vezes porém, ela própria se entrega, meses ou até anos depois, quando numa conversa deixa escapar ou até gaba-se de sempre ter eleito seu candidato, e seu amigo perdeu. Pode haver ou não uma cobrança, mas é melhor deixar passar e manter o amigo, já que o eleitor ele perdeu, ou melhor nunca ganhou.
Por Antonio Carlos (Gazeta)