Os excessos cometidos nas redes sociais
As pessoas de bom senso e boa educação que usam as redes sociais, em especial o Facebook para postar mensagens de interesse real, estão se mostrando frustradas com tipo de conteúdo que cada vez mais vem circulando nessa mídia. Até o publicitário e jornalista Marcio Marques, editor da Revista Aqui, costumeiramente tão cometido em seus textos, usou a última edição para desancar usuários que fazem uso dessa ferramenta para postagens de cunho negativo e ofensivo, criando polêmicas e mal estar, afastando as pessoas quando o objetivo da facilidade de comunicação seria aproxima-las. Reproduzimos abaixo o editorial do Nº 93 da revista.
Pessoas Amargas
Para minha tristeza – e acredito, a de muitas outras pessoas também – tenho repetido com certa frequência o título acima… Estamos vivendo tempos esquisitos, onde temos todas as ferramentas e condições para nos mantermos mais conectados uns com os outros, mas o que está ocorrendo é justamente o oposto.
Tenho certeza que quando o Mark Zuckerberger, juntamente com o brasileiro Eduardo Saverin e outros co-fundadores criaram o Facebook, em 2004, assim como o velho Orkut e outras redes sociais anteriores ao Face, a intenção era justamente aproximar as pessoas. Mas o que temos visto cada vez mais são pessoas discutindo e se bloqueando umas às outras nas mídias sociais, porque não gostaram do que viram ou leram nas postagens alheias. Anônimos, parentes, amigos de longa data, casais e até pais e filhos têm se degladiando no ringue eletrônico que se tornaram esses dispositivos de relacionamento. Se xingam, se agridem só porquê um não concordou com a postagem do outro. E se afastam uns dos outros por isso. Os “haters” (odiadores) se multiplicam com muito mais rapidez que os “lovers”. Triste de ver!
Eu praticamente não tenho “vida digital”, aliás um termo que me soa bastante esdrúxulo. Por isso sou taxado de jurássico por alguns. Não ligo… Prefiro ainda ter uma vida “normal” (se é que isso ainda é ser normal), de carne e osso e pés no chão. Mas não sou alienado e sei que hoje grande parte das pessoas, se não a maioria, “vive” apenas no mundo digital. Não têm mais amigos físicos, há anos não saem pra bater um papo e quando precisam fazer uma lista de convidados para alguma ocasião especial, não chegam a reunir 20 nomes. Cena comum hoje em dia numa churrascaria qualquer, num domingão: a família reunida numa mesa gigante, os mais jovens numa ponta, os mais velhos na outra e quase todos com o pescoço a 90° compenetrados com seus smartphones na mão. Quase não há conversa, barulho, risadas e quando há, quase sempre é em torno de algo mostrado na tela do celular… Triste de ver!
As pessoas estão se tornando mais amargas não por culpa do Facebook ou do celular. Estamos assim (evidentemente que não 100% das pessoas) porque assim caminha a humanidade, em movimentos cíclicos. A história diz que imediatamente após os períodos de graves crises e guerras, vivemos tempos de alegria e euforia. Assim foram os anos 1920, após a 1ª Grande Guerra Mundial, e os anos dourados, na década de 1950, após a 2ª Guerra. Espero que estes tempos esquisitos que estamos vivendo sejam o prenúncio de um novo tempo, com mais interatividade positiva entre as pessoas, com mais compreensão, amizade, fraternidade e amor sinceros. Com mais abraços, apertos de mão e beijo na boca. As ferramentas que a tecnologia nos oferece hoje em dia são fantásticas e foram criadas para isso mesmo. O mal uso que fizemos delas é que criaram a paúra e ojeriza que muitos têm do Facebook e seus assemelhados.
Nas últimas eleições gerais, no ano passado, isso ficou muito evidente com o “nós contra eles” apregoado em alto e bom som de ambos os lados. Ano que vem teremos eleições municipais e faltando ainda mais de um ano para o pleito, já temos assistido ataques e notícias falsas circulando pelas redes, espalhadas com rapidez absurda por incautos que se prestam a multiplicar desinformação em troca de uns trocados, de um afago no ego ou de uma promessa de um carguinho público. Utilizam as redes sociais como latrinas, onde se posta todo tipo de bosta…
Pessoas amargas são assim: preferem ver o circo pegando fogo, em vez de fazer o respeitável público sorrir. Preferem fazer pessoas chorarem praticando bullying do que oferecer atenção e orientação. Pessoas amargas são adeptas do “quanto pior, melhor”. Pessoas amargas me dão pena, mas tenho mais pena de quem é obrigado a conviver com gente assim. Por isso digo: sempre que possível, chame essa pessoa amarga aí do seu lado e mostre a ela o mal que está fazendo a si mesma e aos que a rodeiam. Mas se ela estiver cheia de razão, melhor então você se afastar…
Marcio Marques, 45, é publicitário sócio-diretor da Casa das Ideias, editor da Revista Aqui! e atual Secretário de Comunicação de Ribeirão Pires.