Por Marcio Marques, publicitário da Casa das Ideias, editor da revista Aqui! e Diretor de Turismo na Prefeitura de Ribeirão Pires
Na noite daquela terça-feira, dia 18 de março de 2003, na Avenida Engenheiro Caetano Álvares, endereço do lendário Estadão, quando peguei na mão aquele primeiro exemplar do Mais Notícias, com a tinta ainda sujando os dedos, diretamente das rotativas do diário Lance!, tive uma sensação mista de orgulho, alegria, mas, acima de tudo, de que estávamos fazendo história.
Como em uma gestação, tudo havia começado cerca de nove meses antes, em nossa sede própria da Casa das Ideias, na Avenida Santo André, 7. Meu irmão Marcelo Marques, nosso sócio Eduardo Kakisaka e eu já havíamos esboçado algumas ideias do que poderia ser um novo jornal na cidade, já que, naqueles tempos, apenas um veículo havia sobrevivido ao concorrido negócio da mídia.
Com passagem nos principais jornais locais desde 1988 e tendo lançado revista para jovens, o BoleTeen Nota Zero (1993-1995), Marcelo e eu já tínhamos alguma experiência nesse negócio de fazer jornal, mas sempre os fizemos para outros. Um destes jornais que produzíamos era o informativo de um clube da terceira idade de Rio Grande da Serra, que um antigo cliente da Casa das Ideias, o Gazeta, produzia de forma abnegada.
Ele, que na juventude fora discípulo do patrono do jornalismo ribeirãopirense, Geraldo Antão Piedade, fundador d’A Voz de Ribeirão Pires e da Gráfica Santa Rita, nutria o sonho de um dia, ter seu próprio jornal e, portanto, a exercitando este desejo produzindo, ainda que, às vezes, arcando com os custos do próprio bolso o tal jornalzinho.
Em um daqueles agradáveis papos de fim de tarde, descobrimos o sonho em comum entre nós, os três meninos da Casa das Ideias e o Gazeta: O de fazer um bom jornal para Ribeirão Pires! E o momento era aquele. Mas não pelo fato do então único jornal estar monopolizando a mídia. Vários clientes, conhecedores de nosso trabalho em publicidade e comunicação, nos questionavam o porquê da cidade ficar refém de um único veículo de informação, naqueles tempos em que a internet ainda engatinhava e o Facebook nem existia…
Mas havia um problema: Tínhamos o projeto e o conceito do jornal definidos, tínhamos o cara que iria buscar anunciantes “até no inferno” se preciso fosse, mas nos faltava o investidor inicial para dar o primeiro empurrão… Como éramos conhecedores e testemunhas de como nasciam (e morriam) a maioria dos jornais, tínhamos uma condição: Não iríamos nos associar a nenhum político!
Eis que o Gazeta chega um dia em uma de nossas reuniões semanais para “afinar” o projeto, radiante, dizendo ter encontrado o tal investidor. Logo o lembramos: “Não é nenhum político, né Gazeta?!” Sem declinar o nome, na semana seguinte ele chega na reunião acompanhado do empresário Pedro Luiz de Oliveira, o Tio Pedro…
Em um primeiro momento, o desconforto ficou evidente, pois sabíamos que Tio Pedro, “certeza de bons negócios” (seu famoso slogan na época), que já fora candidato à prefeito e presidiu um partido, era envolvido com política “até o último fio de bigode”. Mas ele logo tratou de enfatizar que não queria mais saber de política, que ter um jornal próprio era sonho antigo e que, quando o Gazeta o convidou para conhecer nosso projeto, se empolgou e quis entrar logo no negócio.
Então, propusemos um tempo de “namoro” para nos conhecermos melhor mutuamente. Assim foi e logo percebemos que a empolgação de Tio Pedro lhe saltava aos olhos e era sincera. Também ponderamos que, sem um investidor, dificilmente conseguiríamos começar e manter aquela empreitada. E então apertamos as mãos e brindamos com um De Greville Demi Sec providenciado pelo Gazeta.
O resto é história: Elaboramos estratégia de lançamento inédita que, por meio de faixas espalhadas pela cidade com faixas intrigantes, sempre com a palavra “MAIS” em evidência, atiçou a curiosidade do povo. Definimos que a edição número zero seria lançada no aniversário da cidade. Organizamos um memorável coquetel de lançamento no restaurante Armazém Le Verte, onde a maioria dos quase 200 convidados ali compareceu, numa chuvosa noite de segunda-feira, porque nos conheciam e confiavam em nós, pois o convite não dizia do que se tratava…
E, naquela noite, apresentamos o projeto do Mais Notícias, produzindo ali, ao vivo no telão, a página social com as fotos daquele evento, um feito para a época. Cerca de 35 horas depois, aquelas pessoas veriam suas fotos em um novo jornal, mais bonito, mais colorido, com conteúdo diferenciado, bem diagramado, em formato diferente… Elas estavam lendo o Mais Notícias número zero!
Ter escrito o primeiro editorial do Mais é motivo e orgulho para mim. Independentemente dos motivos que nos levaram a sair do projeto, meses depois, deixamos nossas digitais e nossas ideias naquelas 28 primeiras edições. Eu, que coleciono todos os jornais da cidade desde 1989, sinto sensação especial quando folheio aquele primeiro volume, de 2003, relembrando aquele trabalho que não nos trouxe dividendos, mas foi devidamente pago com muita satisfação e a impagável sensação de dever cumprido.
Vida longa ao Mais Notícias!