Desde o final do ano passado, estruturas metálicas começaram a aparecer nas ruas de Ribeirão Pires despertando a curiosidade dos munícipes. E, pouco depois da virada do ano, descobriu-se que se tratavam de totens publicitários similares aos existentes em outras cidades, munidos de painéis eletrônicos informativos.
A instalação foi possibilitada através de uma emenda à Lei Cidade Limpa (5509/11), que disciplina a publicidade estática na cidade. A Lei 5947, de 16 de dezembro de 2014, acrescentou ao artigo 14 da regra a permissão para “anúncios publicitários em relógios (tempo, temperatura e poluição), com restrições a propagandas de produtos fumígenos, derivados ou não de tabaco e de bebidas alcoólicas” no munícipio. Desta maneira, quase um ano depois, em 10 de dezembro de 2015, foi promulgada a Lei 6.047 que autorizou a Prefeitura a conceder por 5 anos o direito de uso de 38 espaços espalhados pela cidade ao valor de R$ 103,33 mensais cada. Segundo fontes, o valor mensal cobrado será de aproximadamente R$ 1.200 por anúncio, o que poderia gerar cerca de R$ 500 mil anuais em lucro bruto se todos os espaços forem comercializados.
Com seis destes locais efetivamente ocupados, surgiram diversos questionamentos quanto à utilidade real e efetiva para a cidade, a estética (duvidosa) e também em relação à altura de instalação dos equipamentos.
Problemas – Começando pelo último questionamento, de fato, não há um padrão em relação à altura. O totem localizado no calçadão da Rua do Comércio está a 2,35 metros do chão. Já os do Ponto de Pedra (Avenida Santo André) e da esquina entre a Rua Miguel Prisco e a Avenida Prefeito Valdírio Prisco estão a 1,82 metros e 1,84 metros do chão, respectivamente. Enquanto estávamos no local, inclusive, flagramos um pedestre, que nos revelou ter 1,74 de altura, passando embaixo do relógio – e quase batendo a cabeça. Outro munícipe, que tem 1,90 de altura nos relatou ter, de fato, se acidentado: “é muito baixo. Assim como eu, outros mais altos também podem sofrer acidentes”.
Outro problema que pudemos constatar é que a base do totem ocupa o passeio no canteiro central da Avenida Santo André. Desta feita, um pedestre que venha a atravessar a rua por ali terá dificuldades para acessar a escada que dá acesso a travessia do lado mais baixo da via. Na ilha onde está o símbolo do Jeep Club, na Rua Boavista, o totem está em um ponto da calçada próximo à rampa de acessibilidade para cadeirantes, o que pode atrapalhar a passagem e interferir na mobilidade e acabar por se tornarem uma espécie de estorvo ao invés de prestar serviço real e de utilidade pública à população.
Por fim, há um detalhe que não pode ser ignorado: a já citada lei 6.047/15, que regulamenta a instalação dos totens, especifica que os totens devam ser instalados em dois pontos da esquina entre a Avenida Prefeito Valdírio Prisco e a Miguel Prisco. A lei especifica “Morro São José” e “sentido Delegacia”. Desta forma, é possível depreender que, segundo o texto, a instalação foi feita em local incorreto, ou seja: o relógio deve ser, no mínimo, realocado.
Eficácia X Estética – A última edição da Pesquisa Brasileira de Mídia, encomendada pela Presidência da República ao Ibope mostra que a resposta da população do país aos totens, outdoor, busdoor e similares não é tão eficaz. Dentre os entrevistados, a maioria (38%) afirma nunca terem notado a presença deles nas ruas, embora estejam lá 24 horas por dia, 7 dias por semana. Somando às pessoas que as notam por menos tempo, esse número chega a 68%. Ou seja: uma mídia estática que não chama tanto a atenção quanto parece e o efeito pode ser inverso se, por exemplo, a gestora abandonar o negócio e, literalmente, largar a estrutura ao léu.
Quanto a estética, a arquiteta e urbanista Regina Santana, consultada pelo Mais Notícias, decretou: “A arquitetura de Ribeirão Pires tende ao clássico, não é muito ligada a alta tecnologia. Logo os relógios (uma coisa mais tecnológica) entram em conflito e agridem visualmente, ficam feios para quem olha pela primeira vez”, antes de questionar os pontos de instalação: “foram colocados em lugares errados, como esquinas em que podem atrapalhar a visibilidade dos motoristas”.
Empresa – Levamos questionamentos à Intermídia, empresa responsável pelos relógios e a comercialização dos espaços. O gerente Fabio Rossi explicou que os anúncios começarão a ser veiculados na próxima segunda-feira e serão atualizados quinzenalmente. Como contrapartida, a cidade, além do dinheiro, terá “publicidade dos atos através de chamadas veiculadas nos painéis eletrônicos”, que também exibirão hora e temperatura.
Em relação aos pontos de instalação, a empresa afirma que “Cada um dos pontos escolhidos sofreu suas adequações específicas para que o usuário obtenha uma melhor experiência visual que contemple o anunciante. Também foram considerados os princípios de segurança básica para pedestres e motoristas”. Quanto ao espaço em que a calçada foi totalmente ocupada, a empresa alegou não se configurar “passagem de pedestre, portanto, não nos foi apontada necessidade de adequação”, mas se dispôs a discutir “cada situação pontual”.
Por fim, a empresa falou sobre o layout que, segundo o gerente “foi desenvolvido com o objetivo de minimizar o impacto visual, respeitando os conceitos de simplicidade e robustez” e é “o mesmo padrão de mobiliário urbano utilizado em importantes cidades turísticas, como o Rio de Janeiro, por exemplo”, ressaltando que “segue o que foi preconizado em concorrência pública realizada pela Prefeitura e o contrato celebrado entre as partes”.
Prefeitura – Contatada, a prefeitura informou que “tendo em vista que o contrato foi realizado no fim da gestão anterior, as colocações dos relógios foram iniciadas no começo deste ano” e que “o referido contrato está sob análise”.