O mês de março de 2014 é emblemático para Ribeirão Pires, que completa, no dia 25, 300 anos de fundação. Antes disso, porém, haverá o aniversário de 60 anos de emancipação político-administrativa, quando passou à chamada maioridade e passou a definir seus próprios rumos e destinos.
Nossa história começa quando a cidade ainda era um pedaço de terra em meio a Serra do Mar, floresta que cobria o litoral da então Colônia do Brazil do Reino de Portugal (com z mesmo). Nesta época, em que nossa economia era basicamente extrativista, andava-se a pé ou a cavalo e as estradas eram trilhas ou caminhos de terra, por entre a mata, cheia de mistérios e perigos.
Considerado milenar, o Caminho de Peabiru (em tupi-guarani significa “caminho de ida e volta”) era usado pelos povos indígenas, segundo estudiosos, desde o ano 200 d.C aproximadamente, mais só foi reconhecido pelos portugueses depois de 1700. A estrada, com cerca de 1,40m de largura tinha dois vértices, um vindo da costa do atual estado de Santa Catarina e outro vindo de São Vicente (então Capitania). Ambos se juntavam na altura do atual Paraná e atravessavam o continente rumo ao Oceano Pacífico, uma das principais vias da América do Sul que, diz-se, pode ter sido aberta por povos do Oriente Médio muito antes da chegada de Cristóvão Colombo a América (em 1492).
Foi pelo Caminho de Peabiru que nomes importantes fizeram história, como os jesuítas e os bandeirantes que agiram capturando (escravizando e comercializando) indígenas. Na beira do caminho e imediações diversos povoados foram fundados, inclusive um que, mais tarde, ficou conhecido por Pérola da Serra.
O Pilar Velho
Em 25 de março de 1714, foi estabelecido o marco zero de Ribeirão Pires, quando se concluiu a construção da Igreja Nossa Senhora do Pilar. Há quem diga, inclusive que o antigo vilarejo de Santo André da Borda do Campo foi fundado ali, dando origem ao Grande ABC. Mas, voltando a capela, ela também tem uma origem misteriosa, com diversas histórias. Uma versão dá conta de que ela seria, na verdade, a antiga ermida (espécie de abrigo para a imagem do santo) de Santo Antônio, que fora erguida em 1549. A mais aceita, contudo, é que ela seria parte de uma promessa feita pelo capitão-mor Antonio Correa de Lemos que, acometido por uma grave doença, fizera uma promessa à Nossa Senhora do Pilar. Curado, ergueu primeiramente uma ermida e depois uma capela que, por sinal, é a mais antiga do ABC.
A estrada de Ferro
O chamado Núcleo Colonial de Ribeirão Pires foi fundado de acordo com exigências do Império, em fase de transição e substituição do trabalho escravo pelo imigrante, doando terras como uma forma de atrair operários, que foram distribuídos ao longo do trecho da estrada de ferro (São Paulo Railway) que ligava Santos a Jundiaí. Em 1884, foi apresentado o primeiro desenho de um núcleo urbano em Ribeirão Pires, a Sede (em propriedade devoluta de D. Maria Florência Rodrigues com mais de 5 milhões de metros quadrados) e dois rurais, Colônia e Pilar. Em 1º de março de 1885, com a inauguração da estação de trens, foi dado o pontapé inicial para o desenvolvimento da cidade.
O prédio da ferrovia, intacto até hoje, foi erguido nos padrões mais modernos da época que, segundo a historiadora Beatriz Kuhl, eram basicamente “edifícios retangulares de alvenaria de tijolos de um pavimento; abrigo da plataforma sustentado por colunas e consoles de ferro fundido e passarela metálica para dar acesso à outra via”. Em seu entorno, apareceu por exemplo, a primeira sede da Igreja Matriz e os primeiros prédios da Rua do Comércio.
Tínhamos então duas Ribeirão Pires, uma urbana, que crescia de forma ordenada e era a “cara da cidade” e outra rural, com processos semi-industriais de produção, divididas pela linha férrea. Isso explica com muita propriedade o fato da parte alta da cidade ter até hoje uma característica domiciliar, com poucos comércios e indústrias, ao contrário da outra metade, que concentra quase toda a vida econômica, política e social.
Do caminho de Peabiru ao caminho da luz
A facilidade de locomoção trouxe mais imigrantes (em sua maioria italianos), que aqui começaram a desenvolver a agricultura e as primeiras atividades pré-industriais, como olarias e serrarias para o beneficiamento de madeiras que eram usadas para os dormentes da ferrovia. Paralelo a isso, comerciantes santistas também adotaram a cidade de terras baratas e clima ameno como um refúgio de veraneio.
Nas primeiras décadas do Século XX, aquele vilarejo já contava com um cemitério (aberto em 1900), clube, o Ribeirão Pires F.C. (1910), iluminação (primeiro a querosene, em 1891, depois a petróleo, em 1912 e, por fim, elétrica em 1928), e telefone, em 1936 e até um cinema, em 1930.
Em abril de 1953, no dia 19 de março, a cidade – então parte de Santo André – declarou-se emancipada. A separação de fato veio apenas no dia 30 de dezembro daquele ano, quando o governador Lucas Nogueira Garcez sancionou a lei 2.456, que estipulava o quadro territorial para o quinquênio 1954/1958, válida a partir de 1º de janeiro de 1954. A nota anexa de número 132 declarou: “O munícipio de Ribeirão Pires é criado, com sede na vila de igual nome e com território desmembrado do respectivo distrito (no caso, Santo André)”.
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