O ano é 1953. Ribeirão Pires acabara de conquistar sua emancipação política e a cidade buscava uma nova identidade que pudesse enfatizar o tom independente com que agora era tratada. A classe política da Pérola da Serra estava satisfeita com as recentes mudanças, porém, algumas pessoas ainda achavam que a história não estava completa. Neste ano, um jovem (e experiente) professor de música teve uma ideia: Agora que somos uma cidade livre, por que não termos uma música para representar esse importante ponto histórico?
Essa pergunta ecoou profundamente nos sentimentos do jovem músico Américo Del Corto. “Eu pensei em fazer uma música que fosse aceita como o hino da cidade”, recorda o autor do que hoje conhecemos como Hino de Ribeirão Pires. Para chegar aos versos populares atuais, essa iniciativa percorreu longos anos antes de ser legalmente reconhecida. Vamos ao túnel do tempo:
Música para crianças
Américo tinha uma melodia pronta a qual uniu a uma letra recentemente adaptada. Originalmente, o hino deveria ser cantado por crianças. “Depois de ouvir as crianças cantarem, percebi que a letra não estava de acordo com aquelas tenras vozes e a melodia era muito cumprida”, conta o autor. O passo seguinte foi experimentar o caminho reverso, ou seja, criar uma música exclusiva para a voz infantil.
O projeto demorou mais de 10 anos para maturar e em 1974 um novo capítulo foi escrito. Américo Del Corto liderava uma banda infanto-juvenil e aproveitou seu time de pequenos músicos para uma apresentação especial. “Neste ano eu compus a letra e a música para o hino e aproveitei para fazer a partitura para a banda”. Assim, nos desfiles que se seguiram, Corto levava sua banda para abrilhantar as apresentações da nova música. Entrar nas escolas e tornar a letra conhecida foi uma tarefa fácil, em pouco tempo os alunos da cidade já haviam memorizado a letra.
Popularidade impopular
Tal popularidade despertou a velha classe política, que achou muito curiosa as palavras acolhedora, serrana, humana, pequenina fração, grande no meu coração juntas para descrever uma verdadeira pérola situada no coração do Grande ABC. A letra parecia representar muito bem a cidade de Ribeirão Pires então, o vereador Didi (Idair Ferreira dos Santos), amigo de Américo, tentou oficializar a música.
A tentativa fracassou. Sem entender muito bem ao certo, parecia que não havia vontade política transformar a iniciativa de Del Corto em um hino oficialmente (e legalmente) reconhecido. O projeto de lei criado por Didi foi reprovado as duas vezes em que foi pautado na votação. “Os vereadores defendiam que o hino oficial da cidade precisava ser escolhido via concurso, para que outras pessoas tivessem a chance de apresentar uma obra”, explicou o senhor Américo.
O concurso nunca saiu do papel, até hoje ninguém sabe o motivo. Mais de uma década se passou e o hino oficial ainda não fora regulamentado.
Solução Prisco
A população (incluindo Américo) pressionava os vereadores. Os nobres edis, por sua vez, passaram a pressionar a Prefeitura para que realizasse o tão emblemático concurso. Valdírio Prisco, na época prefeito de Ribeirão Pires, começou a ficar inquieto com tamanha pressão, o que o levou a tratar do assunto como prioridade.
Foi em 1988 que Prisco encontrou uma solução: ele ordenou que um procurador visitasse várias prefeituras da região metropolitana questionando como fora realizado o concurso que escolheu o hino de cada cidade. O retorno do emissário deixou Prisco abismado. Nenhuma prefeitura fizera concurso para escolher o hino!
Em um documento enviado à Câmara Municipal, Valdírio Prisco defendia que não era por concurso aberto que uma cidade deveria escolher seu hino oficial. A música oficial da cidade deveria ser composta por um músico local, que entendesse da história, da rotina e da vida do município. “Nós já temos esse hino, temos a música de Américo Del Corto”, foram as palavras do prefeito. Os vereadores não tiveram outra opção, aprovaram o hino do professor de música como oficial.
Hoje, um senhor simpático curvado pela idade, Américo Del Corto se sente feliz com uma obra que levou 35 anos para ser reconhecida com a devida importância. “É muito gratificante para mim ver as crianças cantando esse hino hoje em dia. Essa imagem paga tudo aquilo que eu lutei para conseguir”, expressa Américo.