Ribeirão Pires: a cidade que não deu certo

Por Danilo Meira, jornalista responsável pelo Mais Notícias

Estamos a um mês de uma data emblemática, quando se comemorará o 300º aniversário da fundação de Ribeirão Pires, a simpática Pérola da Serra, um “pedacinho de céu” encravado na Serra do Mar que conhecemos tão bem.

Nesta data, também é hora de se pensar a respeito da diferença entre a cidade que temos e a que gostaríamos de ter, entre o que ela é e o que gostaríamos que ela fosse. Complicado? Nem tanto, basta uma breve reflexão a respeito da “inveja do bem” que, não raro, temos de outras cidades.

Esses dias mesmo, um amigo me falou que viajou ao Peru, um país considerado menos desenvolvido que o nosso, e se espantou com a qualidade do serviço de internet, com destaque para o acesso gratuito, ilimitado e em alta velocidade em alguns espaços públicos. Se falarmos em acesso à web, aliás, há um questionamento de dez entre dez empresários a respeito da sua deficiência. Sem contar a segurança, em que somos a quinta cidade com maior número de homicídios no estado de São Paulo. Aliás, há uma explicação dando conta de que a cidade é alvo de desova de corpos mas, venhamos e convenhamos, se isso ocorre aqui é porque a cidade oferece, de certa maneira, clima propício para tal.

São tantas reclamações, tantos questionamentos, tantos senões, que há quem pense até que o ribeirãopirense é um chato de galochas. Mas, penso, não é chatice explícita, apenas a sensação de que tudo poderia ser melhor e que, de certa forma, todos nós (eu me incluo nisso) temos uma parcela de culpa nisso. Eu, que sou andreense, cresci aqui e conheci uma cidade melhor do que ela é hoje, com pessoas mais amistosas e que gostavam mais daqui. Mas o tempo passa. Boa parte dos meus amigos foi embora para outras cidades e países com a mesma justificativa, a de que nossa Pérola da Serra, ou Estância (um apelido que odeio) não oferecia perspectivas.

Analisando friamente, quase tudo aqui é “meia-boca”: não temos turismo, lazer, o trânsito não tem solução, a maior parte de nossa população ganha seu pão (e o gasta) fora daqui, tem seu lazer fora daqui, enfim não vive Ribeirão Pires – apenas dorme. Isso posto, será que não chegou a hora de reinventar esta cidade? Reconhecer que, nesta concepção, ela não deu certo?

É preciso sentar e rediscutir a identidade de Ribeirão Pires. Partir do zero pensando alto, considerando que a emancipação política é apenas uma parte (mínima) de nossa história e não toda a nossa história, já seria um belo ponto de partida, assim como olhar além da margem do Rio, considerando que este lugar não é uma província (ainda que isso seja interessante para alguns), mas sim uma cidade que quer crescer e buscar seu lugar ao sol. Do contrário, quem sabe Santo André não aceite Ribeirão Pires de volta como um bairro?

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