Ontem, o prefeito Clóvis Volpi recebeu a reportagem do Jornal Mais Notícias em seu gabinete, para uma entrevista que você, caro leitor, poderá acompanhar com exclusividade nas próximas linhas. Em 65 minutos de conversa, ele fez uma análise dos oito anos em que esteve à frente da Prefeitura de Ribeirão Pires, sua aposentadoria, e também discorreu sobre outros fatos, como o
processo que pode colocar em risco a posse de Saulo Benevides, agendada para o dia 1º de janeiro.
Volpi iniciou relatando o início de seu governo. “Em2005, asituação da cidade era difícil, mas não por má gestão da Maria Inês, mas sim pelas circunstâncias. A Prefeitura arrecadava R$ 72 milhões, com 104 mil habitantes, mas tinha diversos precatórios, o pior tipo de dívida que existe, já que a qualquer momento um mandado de segurança pode vir a executá-la. A relação entre habitantes e arrecadação não estava equilibrada, a situação do país era ruim e Ribeirão Pires estava em último lugar na arrecadação. Foi um período difícil da economia e ela (Maria Inês) não viabilizava programas. O grande desafio foi estabilizar a situação”, explicou. A ofensiva foi imediata: “foi necessário fazer a economia crescer, mantendo a população estável e chegar a um momento em que a receita estivesse em ascensão e os custos se estabilizassem. Conseguimos e estamos no limite do custeio que, a partir de agora, irá crescer menos do que a receita se a economia estiver estável”.
A crise econômica deste ano dificultou e, segundo Volpi, prejudicou seriamente seu último ano à frente do Paço: “estávamos em processo de aceleração até 2011, mas, em 2012, ficamos estagnados. Tive sete anos bons e um ruim”. Para ele, cortes serão necessários ao próximo prefeito até que a situação melhore, e reflita positivamente na arrecadação de impostos como IPTU, ISS, IPVA, FPM e ICMS, fundamentais ao orçamento das cidades. “A nova gestão vai levar um ano para se estabilizar. Começa na esfera federal, que está adiando os repasses. São coisas corriqueiras, mas que você tem que se adaptar. Então o que acontece com seus quatro anos de governo? Viram dois”, explica, antes de ressaltar: “Não existe milagre. Existe matemática, uma ciência exata. O maior desafio do próximo prefeito será o equilíbrio. Se ele for maluco, não conseguirá. É preciso pé no chão. Temos uma condição financeira melhor do que quando entrei, R$ 240 milhões de orçamento, 45 milhões em precatórios foram pagos. Há um único: o da Kaethe Richers”, conta.
Volpi revela que a crise deixará seqüelas: “2012 pegou a gente de surpresa. Deixarei um déficit de 5% do orçamento, mas as obras estão feitas, todo o valor foi aplicado em estrutura. Tenho consciência de que serei inelegível daqui a dois anos, por conta da Lei de Responsabilidade Fiscal. É uma opção minha. Eu não paralisei obras de infraestrutura. Se é inelegível por 1%, também é por 5%. Não quero ser candidato a nada, então posso ir à frente e levar porrada. Isso não me afeta. Mas é o Clóvis quem pensa desse jeito”.
Análise – O prefeito foi crítico ao analisar sua gestão e admitiu que seus oito anos não foram apenas de acertos: “Eu errei 20%. Acho que acertei 80%”, explicou. Para ele, o grande problema foi a Saúde que “é um grande problema e sempre será”. Quanto a criticada terceirização, analisou ser algo viável: “Temos uma boa saúde, mas as pessoas se tornam cada vez mais exigentes. A terceirização é possível e acho uma solução. Quando a CEMED saiu, por mais que as críticas existissem, era preciso reconhecer que era barata e tinha os médicos. Quando tivemos que tirá-la, após o prazo de cinco anos, cometemos algumas falhas e me penitencio por não ter estado com a mão na massa, é muita coisa e você não tem controle de tudo. Hoje, a Saúde é administrada diretamente, mas eu voltaria a terceirizá-la”, explicou. “Não acho errado quando Saulo a propõe. A questão é com quem, qual a estrutura que a empresa tem e o que ela pode oferecer para servir a cidade em um momento ruim. Procuraria, por conta da legislação federal, uma parceria com uma faculdade de medicina que não tem hospital-escola, como o Hospital das Clínicas, por exemplo. Mas como você descobre isso? É daí que vem os 20% de falhas”.
Arrependimentos – Volpi também falou sobre o que, em sua opinião, faltou ser concluído: “queria ter terminado e implantado o hotel-escola, que seria fundamental para inserir definitivamente Ribeirão Pires no turismo de três dias, que sempre defendi. Além disso, seria suprimida uma grande necessidade. Treinaríamos um pessoal apto a trabalhar, algo fundamental. Até sugiro que se crie uma gerência especial com custo compatível com a receita para se formar técnicos, em convênio com a ETEC, por exemplo. É um projeto muito importante para Ribeirão e para o jovem que infelizmente não deu para ser concluído. A estrutura física vai ficar pronta, mas não houve tempo, o dinheiro não deu, enfim, tudo porque 2012 foi um ano ruim e não pude investir em outras coisas”.
Equipe – Apesar disso, é inegável que a gestão Volpi foi boa para Ribeirão Pires, em especial pela questão da recuperação econômica. Pesou a favor sua experiência técnica: “comecei como vereador, passei por deputado federal, estadual e só depois disso que fui prefeito. Adquiri conhecimento nas comissões permanentes das casas legislativas, onde estão os melhores técnicos para se trabalhar, pessoas que me ensinaram muito. Eu tive sorte. Um exemplo: hoje, nossos funcionários têm melhores condições para trabalhar, com sala, ar condicionado. Se o técnico antes despachava dez processos por dia, hoje despacha vinte”, explicou, antes de ressaltar a equipe: “Todos estão sendo consultados. Os técnicos estão praticamente empregados em Prefeituras que viram o crescimento de Ribeirão Pires e como o trabalho foi feito”.
Acertos – Questionado sobre o grande acerto, o grande ponto de seu governo, Volpi destacou: “meu grande acerto foi colocar Ribeirão Pires na discussão política de igual para igual. Antigamente, um prefeito daqui era identificado como gestor de uma cidade provinciana. Hoje não. Ribeirão cresceu e vai crescer muito neste status, teve um upgrade muito grande nestes oito anos”, explicou. A cidade, inclusive tem sido exemplo: “A educação, por exemplo, virou referência. A Rosi será secretária em Diadema. Como fizemos isso? Com um grande investimento no cidadão professor, que cuida de crianças. Acabamos com aquela coisa de uma pessoa inabilitada cuidar de crianças. Houve planejamento estratégico”.
Eleições – Dedé da Folha foi o indicado por Clóvis Volpi para a sucessão, foi mal-sucedido em sua tentativa. O prefeito fez uma análise interessante: “tínhamos pesquisas dando conta de que 42% dos eleitores votariam em meu candidato. Terminamos a eleição com 60% de aprovação, quando foi inaugurada a UPA. Claro que isso ajuda, mas estávamos dentro de nossas previsões. Se atingíssemos 65% seria a glória. O meu problema? Eu tinha um candidato impugnado. Mesmo assim, ele ainda fez 16 mil votos. A Maria Inês pegou um pouco dos votos e o resto foi de nulos e brancos”.
A vitória de Saulo, em sua opinião, foi obra da rejeição “muito difícil de reverter” de Maria Inês e também aconteceu porque “Dedé decaiu ao longo do processo na medida em que as pessoas tinham dúvidas sobre sua candidatura”, impugnada pela Justiça (o processo ainda corre em instâncias superiores). “Você vai sangrando ao longo do processo. Achei que ele (Dedé) poderia ser terceiro. Faltando 20 dias, o orientei a ficar na rua para ser segundo e ficar com um handicap para o futuro”.
Volpi foi mais a fundo: “nós ganharíamos a eleição com outro candidato, não tenho dúvidas. Faltando 30 dias, julgado em São Paulo, se ele abre para a Rosi (de Marco, então candidata a vice), venceríamos a eleição. Isso criaria um clima diferente, um fato novo na cidade”. Quanto ao resultado final, ele não se empolga com os números: “O Saulo, por mais que tenha feito oposição por quatro anos, não teve isso revertido nas urnas. Se ele tivesse vencido com 60%, 70% dos votos era uma história, mas os 33% que ele teve, para mim representaram um fracasso. Em 2004 eu, com todos os problemas, uma batalha enorme, tive 39% contra nomes fortes, como Valdírio (Prisco), personalidade política forte na cidade e o PT, que tinha o Sr. Jair (Diniz), uma pessoa boníssima. Na minha opinião, o Saulo teria 25% dos votos e seria o segundo se tivéssemos um candidato viável para ser o primeiro”.
A seguir, detalhou o fato crucial para este desfecho: “o candidato (Dedé) bateu o pé e dependíamos dele ter dito que abriria mão. Eu tive o compromisso de dizer: ‘vamos perder a eleição porque você vai sangrando até o final’. Fui claro. ‘Tentaremos ficar em segundo, um bom número para nós. Mas, se você deixar, escolha um daqui, nós mudamos isso e ganhamos a eleição’. Seria um fato novo que não houve. Hoje, não sei o que ele pensa, mas continuo com essa mesma idéia. Não sei o que acontecerá com ele, mas estou tranquilo”.
Ele concluiu o pensamento com uma história: “fiz uma consulta para ser prefeito de Mauá. Conversei com o prefeito de Blumenau (SC), que também havia sido prefeito de São José e ele me disse: ‘Meu filho, você tem uma história bonita na política, não faça isso’. Na hora liguei para um grupo de partidos que me dava sustentação e pedi para retirarem meu nome de qualquer discussão. Isso um ano antes, em setembro de 2011. Disse a eles: ‘teria que concorrer com liminar e eu não vou levar vocês comigo dessa forma’. Esse é o Clóvis, mas cada um tem uma cabeça”.
Saulo – Volpi também analisou o imbróglio jurídico envolvendo o novo prefeito. “Na minha opinião, ele cometeu abuso de poder econômico. Mas isso só vai atrapalhar a cidade. Ganhou, levou. Nunca entrei com uma ação contra alguém na minha vida. Nunca. Mesmo quando tinha condições de opinar, reconheci que o adversário venceu. Voltando ao Saulo, aquele ato não mudou o resultado da eleição, que já estava definida. Se ele tivesse mais tranqüilidade, não teria feito. Não precisava. Foi absurdo ele participar da distribuição, ele cometeu um crime eleitoral mais grave do que aquele do Dedé lá atrás. Agora, como cidadão, gostaria que ele vencesse no tribunal, porque aí acabava o problema. É o melhor para a cidade”.
Futuro – O prefeito ratificou sua aposentadoria. Ao menos das eleições: “quero disputar a eleição para presidente estadual do PV, fazer gestão administrativa partidária. Mas pedir votos na rua, para ser prefeito, não quero mais”. “Para deixar a vida pública eleitoral, deixar de pedir votos, você precisa de uma preparação enorme. Fico imaginando o jogador de futebol que tem que parar. Ser rejeitado pelo público é pior do que parar sendo aceito. Fiz uma opção. Não quero ser rejeitado, quero ser lembrado. Para isso, tem que parar antes”.
Ele ainda filosofou sobre
amizades: “Tenho muito mais amigos que inimigos. Há também o meio termo que pode estar lá e cá. Estes são os oportunistas. Alguns deles precisam estar em três, quatro lados por necessidade e esses eu respeito muito. Tem os oportunistas por ego. Esses eu não respeito. E há os amigos, os que ficam próximos, os mais respeitados, aqueles que jantarão em minha casa”.
Aos cidadãos, uma mensagem de despedida: “Espero que a cidade e os cidadãos continuem com esse espírito de crescimento. Quando vim para cá, anos atrás, analisei que parecia que Ribeirão tinha uma corda em seu perímetro e não queria saber ou não se interessava pelo o que se passava do outro lado dela. Anos mais tarde, vemos que esse pensamento não foi errado, já que construiu esta sociedade da forma em que está. Agora, temos que ultrapassar este limite e crescer, para que a cidade não se enclausure porque não vai dar certo. É o grande desafio para os próximos gestores”.