A vida atual deixa uma série de interrogações nas cabeças das mães, envoltas em uma mudança de comportamento sem precedentes entre as crianças que, cada vez mais, são bombardeadas com uma infinidade de informações que geram dúvidas sobre a maneira correta de se educar os pequenos. A preocupação é tanta que, hoje em dia, até mesmo aquelas brincadeiras inocentes de outros tempos já são questionadas.
Vamos pegar um exemplo clássico, a música “Atirei o Pau no Gato”. Hoje, o politicamente correto fez com que fosse feita uma adaptação, presente até mesmo nos vídeos da Galinha Pintadinha, um dos mais populares entre os pequenos. No final da canção, vem o recado: “não atire o pau no gato porque isso não se faz. O gatinho é nosso amigo, não devemos maltratar os animais, jamais”. Ironicamente, músicas com letras sensualizadas, como muitos funks, estão presentes aos tocadores de músicas e até mesmo nas festinhas infantis.
Entre os pedagogos e psicólogos, há opiniões divergentes sobre o tema. Uma corrente defende que a criança deve ser criada segundo os chamados padrões sociais de boa conduta. Outra, por sua vez, contraria este pensamento, defendendo que se a criança pode ter problemas para definir sua personalidade e diferenciar o certo e o errado. “Não dá para colorir o mundo. O incorreto pode ser mostrado para que elas aprendam a diferença entre certo e errado”, afirma Sirlândia Reis de Oliveira Teixeira, coordenadora do curso de pós-graduação em psicopedagogia da Unimesp (Centro Universitário Metropolitano de São Paulo).
O processo não é de hoje. No conto original de Cinderela, por exemplo, enquanto ela estava se casando, as irmãs más tiveram seus olhos arrancados por corvos, uma punição que as próprias pessoas extirparam da história pela violência. Monteiro Lobato, por exemplo, escreveu, em “Histórias da Tia Nastácia”, uma passagem na qual Emília chama a personagem principal da obra de “negra beiçuda” algo que, hoje, é considerado racismo. Seria o caso de se censurar a obra? Para a pesquisadora de contos infantis Susana Ramos Ventura, não: “É preciso explicar que naquela época racismo não era crime. Não se deve jogar toda a literatura no lixo”.
De fato, para muitos é um erro crasso a apresentação de histórias 100% felizes, já que o mundo real é feito por momentos bons e ruins, de pessoas boas e más. Desta maneira, as histórias adaptadas poderiam sim ser um risco à formação da criança, podendo, a longo prazo, gerar frustrações e problemas de adaptação à chamada “vida real”, algo que a psicopedagoga Denise Dias defende: “Pais que apenas compram contos de fadas cem por cento felizes cometem um erro. A vida não é perfeita e há pessoas do mal no mundo real. A criança precisa lidar com isso”.