Não dá para imaginar a vida sem o telefone celular. Prático e faz muito mais do que apenas chamadas: serve como gravador, câmera fotográfica, filmadora, computador, mil e uma utilidades. Por tudo isso, o Brasil já tem mais celulares do que gente. Somos quase 191 milhões de habitantes e o número de linhas em abril já chegou a 212 milhões. No mundo, o telefone celular é usado por cinco bilhões de pessoas, mais de 70% da população mundial.
Mas na semana passada, uma notícia caiu como uma bomba para os usuários do aparelho: A Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC), ligada à Organização Mundial da Saúde (OMS), anunciou que a radiação emitida pelos celulares é potencialmente cancerígena, embora a OMS tenha deixado claro que são necessários mais estudos de longo prazo.
Quando uma pessoa liga para outra, o celular transmite e recebe informações por meio de ondas eletromagnéticas e a IARC classificou essas ondas como possivelmente cancerígenas para os usuários. Segundo os cientistas, há uma evidência limitada de que o uso do celular pode aumentar o risco de glioma, um tumor cerebral maligno; e de neuroma, um tumor benigno.
Os 31 cientistas de 14 países não sabem quantificar os riscos. Eles analisaram vários estudos, entre eles uma pesquisa de 2004 que indicou um aumento de 40% na probabilidade de surgir um tumor maligno em uma pessoa que fale, em média, 30 minutos por dia ao telefone celular, em um período de 10 anos.
Até que resultados de novos estudos sejam divulgados, a IARC aconselhou as pessoas a tentar reduzir a exposição às ondas de radiofrequência, optando mais pelo envio de mensagens de texto ou falar através de viva-voz ou fones de ouvido, mantendo o celular longe da cabeça.
Companhias rebatem – As companhias de telefonia móvel rebatem o anúncio feito pela Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer. De acordo com nota distribuída pelo Sindicato Nacional de Empresas de Telefonia e Serviço Móvel Celular e Pessoal (Sinditelebrasil), que reúne todas as empresas de telefonia fixa e móvel que operam no País e está em funcionamento desde setembro de 2003, as prestadoras de serviços de telefonia móvel “seguem rigorosamente os níveis de emissão de campos eletromagnéticos de radiofrequência apontados como seguros pela Comissão Internacional de Proteção Contra a Radiação Não Ionizante (ICNIRP)”. Conforme o comunicado, o celular foi incluído pela OMS no Grupo 2B – Agentes possivelmente cancerígenos, categoria em que se encontram o café, vegetais em conserva (picles) e talco para higiene corporal.
“Essa categoria é utilizada quando existe uma evidência limitada de potencial para causar câncer em seres humanos”, afirma o comunicado, acrescentando que a nova posição a respeito dos aparelhos considera apenas o potencial que um agente tem de levar ao câncer, “e não a probabilidade de que isso ocorra”. Além disso, alegam que é necessário considerar os níveis diários de exposição humana para apontar os riscos de ocorrência da doença.
Para Ubirani Barros Otero, da Área de Vigilância do Câncer Relacionado ao Trabalho e ao Ambiente/INCA (Instituto Nacional do Câncer), com base no parecer do IARC, não há evidências suficientes para afirmar que radiação não-ionizante cause câncer, mas também essa possibilidade não deve ser descartada. “Na ausência de confirmação científica suficiente vale o princípio da precaução. Para a população seria prudente recomendar uso parcimonioso, como por exemplo, interrupções entre as ligações e reduzir uso por crianças e adolescentes”.
Fazendo um melhor uso do celular
A americana Devra Davis, PhD e professora de epidemiologia na Universidade de Pittsburgh e uma das primeiras pesquisadoras a afirmar que os celulares podem causar câncer, dá algumas dicas de como usar os celulares com segurança em seu livro “Disconnect – The Truth About Cell Phone Radiation, What the Industry Has Done to Hide It, and How to Protect Your Family” (Desconecte – A verdade sobre a radiação dos celulares, o que a indústria fez para escondê-la, e como proteger sua família), lançado em setembro de 2010. Confira:
1- Mantenha fora do alcance das crianças
O uso de celular pode causar um tipo específico de câncer, o glioma, que atinge o cérebro. Crianças são mais suscetíveis às mutações genéticas causadas pelas ondas do celular por ainda não possuírem a barreira hemato-encefálica (que protege o cérebro) totalmente formada. Quanto mais jovens, mais vulneráveis. Por isso o ideal é evitar o uso nessa faixa etária.
2- Use fones de ouvido
Usar fones de ouvido aumenta a distância entre o aparelho e o corpo e reduz a exposição à radiação. Nos manuais de instruções, as próprias fabricantes de celulares recomendam deixá-lo afastado do corpo.
3- Não carregue junto ao seu corpo
Mesmo que não esteja sendo usado, o celular emite radiação. Deixe na bolsa ou na mochila.
4- Não deixe o celular sob o travesseiro
Enquanto você dorme, o celular não deixa de emitir radiação eletromagnética. Os médicos não indicam uma distância segura exata, mas o ideal é deixar longe do corpo. O maior risco é o uso junto à cabeça por muito tempo.
5- Evite usar o celular com o sinal fraco
Segundo Devra Davis, em standby ou com o sinal fraco é quando o celular emite mais radiação. Evite o uso durante este período. Segundo a Organização Mundial de Saúde, “usar o telefone em áreas com boa recepção também diminui a exposição, pois permite que o telefone transmita com menor potência”.