Indústria da multa ou cultura da infração?

Frequentemente ouvimos  de amigos e parentes que existe uma indústria da multa na cidade de São Paulo. Pessoas reclamam de radares, dos marronzinhos, do policiamento de trânsito,  dizendo que a cidade só sabe multar e multar.

Realmente os números impressionam: em 2010, a CET (Companhia de Engenharia de Trafego) emitiu mais de 6,9 milhões multas de trânsito. A cidade conta com 2.450 agentes da CET e 547 radares. De acordo com o balancete anual do FMDT (Fundo Municipal de Desenvolvimento do Trânsito), o total de arrecadação em 2010 foi superior de R$ 580 milhões.

Estes números poderiam ser utilizados como argumento por qualquer cidadão para comprovar a existência da indústria da multa na cidade, mas os números podem enganar. Imagine uma cidade com 17 mil quilômetros de vias, 7 milhões de veículos licenciados, sem considerar os que circulam na cidade com origem em outros municípios e estados.
Se fizermos as contas por cima, chegaremos à conclusão  que foi emitido menos de uma multa por veículo em todo o ano, mas a nossa experiência diária de motorista sabe, é praticamente impossível que cada veículo cometa apenas uma infração no trânsito por ano, pois vemos infrações a todo momento, em qualquer lugar.

Diante de tantas barbeiragens que vemos no trânsito, quem não se pergunta pelo menos uma vez ao dia: “Cadê a CET que não vê isso?”. Ao contrário das bravatas e tentativas de recursos de alguns que são autuados, o que vemos é o hábito de se sentir melhor que outro, ganhar vantagem,  chegar primeiro a qualquer custo. Sentimos no volante que a educação dos nossos iguais no trânsito é assustadoramente  esumana,  e concordamos  que muito mais infrações são cometidas do que flagradas.

Chico Macena é vereador de São Paulo pelo PT

e vice-presidente da Comissão de Política Urbana e Meio Ambiente da Câmara Municipal de São Paulo

Foi presidente da CET e administrador regional de Vila Prudente / Sapopemba

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