Última matéria da série especial “Vidas Negras, Vínculos Vivos” apresenta a trajetória de superação e determinação de Cleide, que dedicou sua vida ao trabalho e à defesa da autonomia feminina
A Prefeitura de Ribeirão Pires segue com a série especial “Vidas Negras, Vínculos Vivos”, lançada neste mês da Consciência Negra para valorizar histórias que representam, na prática, o compromisso com a igualdade racial e o respeito à diversidade. A ação integra a campanha municipal “Consciência Negra: Vidas Negras, Vínculos Vivos”, coordenada pela Secretaria de Assistência, Participação e Inclusão Social, que reúne atividades de formação, exposições e relatos de vida que reafirmam o protagonismo da população negra na cidade.
O destaque desta edição é Cleide de Oliveira, 63 anos, mãe de dois filhos e exemplo de força, independência e persistência. Sua trajetória atravessa décadas de trabalho, desde os tempos em que começou a trabalhar ainda criança até sua atuação no serviço público municipal.
“Comecei a trabalhar com 9 anos, em casa de família. Depois fui para fábricas e, mais tarde, entrei na Prefeitura. Foram muitos anos de luta, mas sempre com dignidade e honestidade. Criei meus filhos praticamente sozinha, com trabalho e educação. Foi difícil, mas consegui”, conta.
Uma trajetória marcada por esforço e superação – Cleide dedicou parte da vida profissional à Prefeitura de Ribeirão Pires, atuando em diferentes setores — entre eles, na Secretaria de Cultura, onde permaneceu por mais de 14 anos, e também como merendeira e atendente. “Sempre cumpri meu trabalho com respeito e responsabilidade. Nunca precisei de favor, nem de empurrão. O que conquistei foi com esforço”, afirma.
Durante a pandemia, mesmo aposentada, ela foi convidada a integrar a equipe do Hospital de Campanha de Ribeirão Pires — um dos momentos mais desafiadores da história recente. “Trabalhei na limpeza e no apoio da UPA e depois no hospital de campanha. Foi um período difícil, mas segui firme. Sempre acreditei que o trabalho é o que nos mantém de pé”, relembra.
A voz firme de quem acredita na autonomia das mulheres – Cleide é também uma mulher de opinião forte e defensora da independência feminina. “Sempre fui a favor de a mulher ter sua própria renda e não depender de ninguém. É o que dá força e liberdade”, diz. Para ela, políticas públicas voltadas à proteção das mulheres precisam ser cada vez mais fortalecidas. “Sou a favor da delegacia da mulher. Acho que a Lei Maria da Penha é importante, mas ainda precisa ser mais rigorosa. Muitas mulheres ainda sofrem caladas”, afirma.
Sua história se confunde com a de tantas mulheres negras brasileiras que, apesar dos desafios e das desigualdades, seguem em frente, sustentando famílias, carreiras e sonhos. “Nunca fui de fazer escândalo, mas sempre defendi meus direitos. Falo com respeito, mas de igual para igual”, completa.
Cultura, leitura e curiosidade como forma de liberdade – Fora do trabalho, Cleide cultiva uma mente curiosa e ativa: é leitora assídua, apaixonada por livros e pelo conhecimento. “Antes de discutir qualquer assunto, gosto de ler, entender, estudar. A gente precisa se informar para poder falar com propriedade”, diz, destacando autores e temas que despertam seu interesse.
Mesmo aposentada, ela continua trabalhando — por prazer e por propósito. “Não é só por necessidade. Eu gosto de manter a cabeça ativa, de ver gente, de continuar aprendendo. A vida não para”, conta.
Um exemplo de dignidade e consciência – Para Cleide, a Consciência Negra é, acima de tudo, um convite à convivência respeitosa. “Eu sei que existe racismo, mas acredito que o respeito é o caminho. A gente precisa aprender a viver em harmonia, a tratar o outro como igual”, reflete.
Com sua postura firme e olhar generoso, Cleide representa o que a série “Quem nos Mantém Vivos” busca destacar: as pessoas que, com coragem, trabalho e dignidade, constroem diariamente uma Ribeirão Pires mais humana, plural e forte.
Série Especial “Vidas Negras, Vínculos Vivos” – Durante o mês de novembro, a Prefeitura de Ribeirão Pires apresenta histórias reais de servidores e cidadãos que, com suas trajetórias e ações, mantêm viva a luta pela igualdade racial e pela valorização da identidade negra.