Focado e decidido, o PT se antecipa para eleições 2012

PT está de volta”. É com essa frase que muitos estão definindo a movimentação do Partido dos Trabalhadores de Ribeirão Pires que tem sido uma das siglas que mais trabalhou nos últimos três anos, especialmente após o mau desempenho das eleições de 2008, em que ficou sem representantes tanto no Legislativo quanto no Executivo.

Com Maria Inês despontando como pré-candidata, partido trabalha nos bastidores para voltar ao Paço Municipal

De lá para cá, no que podemos chamar de período “sabático”, a legenda não descansou. Muito pelo contrário, começou do zero em uma reinvenção para contornar problemas internos que, diga-se de passagem, acabaram por vir a público e acabaram por interferir no desempenho eleitoral. As feridas foram curadas, a união voltou e agora o PT aparece mais forte do que nunca para a disputa do ano que vem.

Em um cenário que conta com uma série de possíveis rivais de substancial peso eletivo, nada mais natural que achar um nome de consenso – e força similar – para liderar este processo. Isso posto, o nome que desponta com naturalidade para uma pré-candidatura é o da ex-prefeita Maria Inês, que esteve na redação do Jornal Mais Notícias para uma conversa franca que começou justamente falando sobre como foram os últimos anos para a legenda e os planos para o futuro.

Vetos nacionais

Na última semana, ela esteve no Congresso Nacional da legenda, em que foram abordados alguns temas polêmicos, como o veto a coligações com o PSDB, o PPS e o DEM, legendas de oposição declarada ao Governo Dilma Rouseff. A ex-prefeita esclareceu: “Não é um veto. O PT analisa que a política local tem particularidades que precisam ser compreendidas. Em linhas gerais, se o PT de qualquer cidade quiser se aliar com o PV, não seria necessário uma análise mas, aqui em Ribeirão Pires, soaria estranho. Agora, pode ocorrer que, pela particularidade de uma cidade, resolve-se fazer uma aliança com o PSDB, que tem linha programática antagônica a nossa. Isso poderia complicar em outras eleições, afinal como ficará com dois palanques diferentes? Procura-se evitar, mas se a localidade solicitar, será analisado pelo PT nacional que, se entender que não há problema, irá autorizar, apenas no caso destes partidos, que são os mais críticos ao programa nacional do partido”. Mais especificamente em Ribeirão Pires, ela ressaltou que “isso nem de longe irá interferir”.

Eleições 2008

Em 2008, o partido não foi bem no pleito local, tendo ficado sem representantes eleitos. A própria Maria Inês foi a segunda vereadora mais votada, atrás de João Lessa (PSDB), mas ficou fora por conta do quociente eleitoral, já que o número de votos não possibilitou a coligação garantir cadeiras na Câmara. Isso foi objeto de análise interna nos últimos anos: “Nós tivemos vários problemas (na eleição) e o principal foi o grande poderio do nosso adversário, com um grande numero de partidos atraídos para a base de sustentação. Na estratégia usada, procuraram ter o maior número possível de candidatos a vereador, que, por sua vez, também pediam votos a ele, tirando votos dos adversários”, afirmou, antes de ressaltar: “certamente não foi o reflexo do conjunto da sociedade na representação de quem defendia um projeto ou outro. Se você pegar o percentual de votos que nosso candidato a prefeito recebeu, garantiria ao menos uma cadeira na câmara”.
Reinvenção

O passo seguinte foi uma espécie de reinvenção, uma forma de tentar conciliar as forças internas do PT, um processo importante que, segundo Maria Inês, foi conduzido conjuntamente: “Há vários grupos internos com seus pesos e lideranças internas e isso deixava o partido muito polarizado em torno a liderança que estava com um dos grupos”, afirmou, antes de completar: “as pessoas de todos eles entenderam que o partido não poderia ficar mais deste jeito e discutimos que, na próxima direção, a representação de todas as forças seria em comum acordo. A partir daí começamos a reverter este clima terrível que começou”.O resultado deste processo foi a chegada do consenso interno. Recentemente, o diretório decidiu, entre os nomes do presidente municipal Carlão, do candidato em 2008, Mario Nunes e da ex-prefeita Maria Inês, que ela seria a pré-candidata à prefeitura, pesando fatores como a própria força de seu nome e a experiência, fatores que podem pesar a favor no pleito.
Evolução de Ribeirão Pires

Falando em experiência, como ex-prefeita, Maria Inês analisou os sete anos de gestão Volpi. E, para ela foram abaixo das expectativas. “O que a cidade precisa para oferecer melhor qualidade de vida aos moradores, tem que ser tocado independentemente de quem está no comando da cidade. Nesse ponto de vista, considerando que ele governou em uma época de crescimento e estabilidade econômica e como ele recebeu a Administração, eu considero que a cidade não avançou como poderia ter avançado”.
Dívidas e PASEP

Na sua época, Maria Inês teve que administrar em meio a uma série de mudanças administrativas como, por exemplo, a Lei de Responsabilidade Fiscal e uma série de débitos a pagar em uma época em que a arrecadação: “gastávamos 11, 12, 13% do orçamento em dívidas anteriores e tendo em vista que a receita cresceu, ele conseguiu diminuir a relação dívida/receita. Quando entramos, tínhamos um orçamento e meio de dívida, hoje há apenas 37%”.

Era uma época difícil e, inclusive, refletiu em uma polêmica recente: o débito de com o PASEP, no valor de R$ 16 milhões, aproximadamente e que chegou a gerar reclamações à boca pequena por parte da Administração. “Nosso jurídico tinha conseguido uma liminar que nos dava o direito de não recolher o dinheiro deste fundo, já que ele não beneficiaria a nenhum de nossos servidores, pois eles estão fora da faixa de benefício”, explicou a prefeita, antes de justificar a medida: “um prefeito tem que zelar pelo orçamento da cidade. Quanto mais recursos ele puder buscar ou economizar, mais serviços irá gerar para o munícipe. Se eu podia economizar, porque iria colocar em um fundo. Além do mais, estivemos em um período onde tudo se reverteu. Por exemplo, ninguém no Brasil pagava precatórios. A pena era só nomear um interventor e isso nunca foi feito. Em 2001, foi aprovada a emenda 30, que obrigava pagar os precatórios. Desapropriações passaram a ser pagas na hora, ao contrário do que era feito anteriormente. Além disso, houve a Lei de Responsabilidade Fiscal. Ou seja: além de você saldar todos os problemas passados, que os prefeitos passados empurravam com a barriga, você tinha que governar. Mesmo assim, pagamos precatórios, fizemos ajuste fiscal e ainda fizemos todo o viário principal da cidade, como a Avenida Francisco Monteiro, Miguel Prisco, Sete de Setembro, Olímpia Catta Preta, a Quarta Divisão… a cidade inteira, tudo isso com a devida drenagem, junto com a SABESP. Não tinha esse negócio de quebrar a rua logo depois de se colocar o asfalto, como aconteceu na Pedro Rípoli”. Em tempo: o débito estava sendo questionado judicialmente e apenas este ano foi derrubada a liminar que garantia à cidade a possibilidade de não pagá-la, sendo que abrangeu quatro anos da gestão anterior e outros seis da atual.

Outra polêmica sobre seu nome foi a respeito de um parecer negativo sobre suas contas, rejeitadas pela justiça, mas que foram aprovadas pela Câmara em nova votação: “Foi uma questão meramente contábil”, afirmou a prefeita. Em 2000, a contabilidade apontou apenas 24,2% de gastos com Educação, abaixo dos 25% estabelecidos em Lei. “No ano seguinte, extrapolamos exatamente a mesma quantidade”, afirmou antes de explicar que o dinheiro ficou na secretaria e iria ser empenhado na reforma de uma escola mas, como o serviço não foi realizado, não foi feito o pagamento naquele momento, mas sim a seguir, para a empresa que, de fato, terminou a obra. Um fato similar ao ocorrido na gestão atual.

Conversas para o futuro

Nos bastidores, o PT já tem conversas preliminares com diversos partidos, a fim de organizar uma coligação forte para o pleito de 2012. Já existem legendas que, inclusive, estão em conversas avançadas nesse sentido até por conta do quadro de indefinição da situação. Para Maria Inês, isso acontece por conta de uma espécie de conflito de intenções: “há vários nomes que decidiram construir seus projetos políticos a médio prazo, como (o vereador) Saulo Benevides, que imaginou na eleição passada que, apoiando o Volpi, teria mais chances de ser eleito em 2012 com o apoio do prefeito. O problema é que várias lideranças políticas da cidade investiram nesse mesmo caminho, como o Dedé (vice-prefeito) e talvez de outros aliados que agora não vão se juntar em torno de um mesmo nome, ainda que alguns deles possam estar fazendo isso como um balão de ensaio para ganhar mais espaço”.

Sobre a chapa majoritária, é fato que o partido não abre mão de liderá-la mas, segundo a pré-candidata, ainda não está sendo falado sobre um vice, “o que está não está sendo discutido” neste momento. O certo é que a coligação, que em 2008, foi pequena, deve ganhar mais legendas: “teremos no mínimo seis partidos na coligação, a maior do PT de Ribeirão Pires”.

As rivalidades também passam ao largo do trabalho do partido, que, neste momento, é de base, até mesmo por conta da boa resposta do eleitorado sobre seu nome nas pesquisas iniciais, mas o partido já sabe quem pode ser o rival mais forte: “com ou sem apoio do Volpi, o Dedé é um candidato forte, mas os eventuais adversários não isso não é nossa preocupação, e sim as nossas alianças”, ressaltou Maria Inês..

Lula

Morador da região, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode ter uma participação ativa na campanha: “acredito que ele deva participar não só aqui (no ABC), mas no Brasil inteiro, ajudando a costurar alianças e trabalhar a unidade”.

Grecco e Prisco

O Valdírio Prisco está no PMDB, não veria nenhum problema em conversar com ele. E, com o Grecco também não. Já estivemos juntos em vários momentos em atividades regionalizadas. Mas isso não é a prioridade agora. Muita água vai rolar ainda.

Conclusão

Tive um trabalho na cidade que é conhecido por muitos, desconhecido por vários. No momento certo, iremos relembrá-lo, reapresentá-lo para a cidade e apresentar uma proposta sobre que caminho seguir a partir de 2013. Esse será o nosso trunfo. Estou tranqüila, principalmente porque vivemos um clima excelente no PT hoje, como há muito tempo não tínhamos. É como uma família, que com sua boa base, nos dá força para fazer o trabalho que nós sabemos.

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