São Marcos de Palestra Itália: mais um mito que deixa os gramados

Na última segunda-feira, mais um grande ídolo do futebol brasileiro deixou os gramados: o goleiro Marcos, do Palmeiras.

Boa praça e bem humorado, ele representa o fim de uma era, a dos “boleiros”, aqueles que não eram “atletas” no estereótipo da palavra. Marcos Roberto Silveira dos Reis, seu nome de batismo, era diferente, era integrante daquela geração que gostava da bola, que jogava por amor à camisa, amor ao esporte. Por isso mesmo, não se furtava (assim como muitos outros jogadores) a um “cigarrinho” de vez em quando – um assunto aliás que lhe deixou irritado – longe dos flashes e olhares da imprensa e dos torcedores.

Goleiro encerrou a carreira na última segunda

Verdade seja dita, isso não o impediu de ter uma carreira longeva. Abandonou os gramados com 38 anos de idade, jovem ainda para os padrões da sociedade, mas não para o futebol. Nestes mais de 20 anos de carreira, ele somou glórias como a Copa do Mundo de 2002, quando, junto a Ronaldo Fenômeno e Rivaldo teve participação decisiva na campanha vitoriosa, além de títulos pelo Palmeiras, com destaque para a Copa Libertadores da América de 1999, quando ganhou a alcunha que lhe tornou famoso: “São Marcos de Palestra Itália”.

A partida da “beatificação” não sai da retina da torcida palmeirense, que lembra com alegria daquele momento vivido há quase 13 anos. À época, o regulamento da Libertadores era diferente, com apenas dois clubes de cada país com a possibilidade de um terceiro, caso tivesse sido campeão no ano anterior, que entrava direto nas oitavas de final (naquele ano era o Vasco, campeão de 1998). Por isso, o Palmeiras jogou quatro vezes contra seu maior rival, o Corinthians, sendo a mais importante delas nas quartas de final. Após vencer a ida por 2 a 0, perdeu a volta pelo mesmo escore, levando a decisão para as penalidades. Aí Marcos apareceu pela primeira vez, ao pegar dois pênaltis na disputa vencida por 4 a 2 pelo Verdão. Quis o destino que no ano seguinte, acontecesse uma nova disputa, nos mesmos penais, pela mesma Libertadores, contra o mesmo Corinthians, então a melhor equipe do mundo – havia sido campeã mundial seis meses antes. Desta vez, o pênalti defendido foi justamente do principal ídolo rival – Marcelinho Carioca, na última cobrança. Milagre dobrado só pode ser coisa de Santo. Coisa de São Marcos do Palestra Itália.

Torcida do Palmeiras conquistada, o camisa 12 usou suas maiores armas – talento, simplicidade e sorriso no rosto – para se consagrar. A essa altura, já como ídolo do Brasil, virou goleiro titular da Seleção Brasileira de Luis Felipe Scolari, o bom e velho Felipão, que comandou a última grande glória em campo da “Pátria de Chuteiras”, na Ásia e no Japão. Agora, ele não era apenas o goleiro do Verdão. Era o goleiro de uma nação.

Como todo fora de série, Marcos chegou a ser seduzido pelo milionário futebol europeu. Ele mesmo contou a história: “cheguei no Arsenal e me apresentaram o clube. Mas eu não queria ficar. Então comecei a pedir de tudo, mais dinheiro, casa para levar a família, passagem para voltar ao Brasil e eles disseram ‘sim’ para tudo. Então eu disse: eu sou o Marcos do Palmeiras e vou voltar. Muito obrigado”. E assim foi. E, o que poderia ser visto como traição, virou uma prova de amor. Na ocasião, em 2003, o Palmeiras remoia o rebaixamento para a Série B…

Por isso e por tudo o mais, Marcos merece toda a reverência. Corinthianos, sãopaulinos, santistas, flamenguistas, vascaínos, cruzeirenses… todas as torcidas o respeitam e o admiram, afinal ele é merecedor de todas as homenagens, inclusive de nós, do Jornal Mais Notícias. Por isso, nosso muito obrigado vai em forma de oração:

São Marcos que estás na meta
sejam benditas as suas defesas
assim no Palestra como em qualquer outro campo
São Marcos que vem de Oriente
santificadas sejam as suas performances
livrando-nos das derrotas e dos empates
Amém

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