Hipotireoidismo em Cães: sintomas e tratamento

A glândula tireoide é a glândula endócrina mais importante na regulação do metabolismo. 

Os hormônios produzidos por ela estimulam a produção de calor (calorigênese) responsável pela regulação metabólica de todas as células do organismo; o crescimento; regulam a diferenciação e o metabolismo dos lipídios incentivando sua degradação para gerar energia; estimulam a produção de proteínas quando há dieta com fontes adequadas de energia e degradação das proteínas para gerar energia quando não há fonte alimentar; regulam o metabolismo de carboidratos com efeito hiperglicemiante; atuam na síntese de vitaminas e minerais e na secreção e na degradação de outros hormônios. 

São importantes no desenvolvimento fetal, além de exercerem efeitos positivos no coração e atuarem no centro respiratório, na produção de células sanguíneas (eritropoiese) e nos ossos, onde estimulam tanto a formação quanto a reabsorção óssea. 

Em filhotes, têm ainda a função de estimular o desenvolvimento do sistema nervoso.

Na espécie canina, a tireoide tem dois lobos localizados nas superfícies laterais da traqueia (região do pescoço), podendo sofrer maior ou menor estímulo do hormônio tireoestimulante (TSH) que é produzido na hipófise. 

Esta glândula é o principal reservatório de tireoglobulina, uma glicoproteína de alto peso molecular, e resíduos de iodo, que servem como precursores da síntese dos hormônios tireoidianos (T3 e T4).

Os hormônios da tireoide são os únicos compostos orgânicos iodados do organismo, portanto, a única função do iodo ingerido é para a síntese dos hormônios tireoidianos.

O iodo absorvido pelo intestino na forma de iodeto é transportado na circulação para a glândula tireóide onde é oxidado e reage com os resíduos tirosina da tireoglobulina formando T3 (tri-iodotironina) que pode ser convertido em T4 (tiroxina) posteriormente de acordo com sua concentração no organismo. 

A síntese dos hormônios tireoidianos e a sua secreção estão reguladas por mecanismos extra (TSH) e intratireoidianos (autorregulação).

 

Hipotireoidismo canino

O hipotireoidismo é uma doença que envolve vários sistemas no organismo e resulta da redução da produção de tiroxina (T4) e tri-iodotironina (T3) pela glândula tireóide.

As causas em cães são principalmente primárias de origem congênitas, atrofia, inflamações ou tumores que levam a destruição progressiva da glândula e consequente deficiência na sua produção hormonal.

O hipotireoidismo ocorre, principalmente, em cães de meia-idade, tendo cerca de 30% dos cães entre 4 e 6 anos. 

Os cães puros são mais comumente afetados devido a influência genética. As raças descritas como predispostas são Doberman, Pinscher, Golden Retriever, Labrador, Cocker Spaniel, Schnauzer miniatura, Teckel, Setter Irlandês, Boxer, Beagle, Borzoi e Dogue-alemão

Nas raças de maior predisposição, a doença pode ser diagnosticada mais precocemente, em torno de 2 anos de idade.

Os sintomas do canino hipotireoideo confundem o clínico, geralmente não são específicos e raramente caracterizam a doença, o que torna de extrema importância o diagnóstico preciso da hipofunção tireoidiana por meio de dosagem hormonal.

As alterações clínicas podem ser mais específicas, assim como sinais dermatológicos podem ser predominantes em algumas raças e, em outras, serem mais evidentes alterações neuromusculares. 

Os sinais metabólicos podem não estar evidentes na história clínica do animal, uma vez que os proprietários se adaptam às mudanças progressivas, muitas vezes só as notando depois de iniciado o tratamento.

Dentre os sinais metabólicos observados incluem letargia, retardo mental, intolerância ao exercício e propensão ao ganho de peso, sem aumento do apetite e da ingestão de alimento. Cerca de 40% dos hipotireóideos são obesos, mas muitos desses obesos também são superalimentados. 

A intolerância ao frio é outro sinal clínico bastante comum, uma vez que há dificuldade em manter a temperatura corporal constante.

As doenças de pele de causas hormonais afetam até 15,6% de todas as dermatopatias, sendo os maiores percentuais (61,7%) decorrentes do hipotireoidismo. 

Não é para menos que os sinais dermatológicos são considerados os sintomas mais comuns aparecendo em mais de 85% dos cães doentes. 

Aproximadamente 25% dos animais acometidos apresentam alopecia simétrica bilateral (falhas de pelos em ambas as laterais do corpo). Como o hormônio tireoidiano estimula a fase de crescimento do folículo piloso, sua deficiência leva ao retardo do início dessa fase e, consequentemente, à retenção dos pelos na fase de descanso. Esses pêlos saem facilmente se arrancados com os dedos, e há falhas principalmente em áreas de fricção, como na parte ventral do tórax, do pescoço e da cauda, ficando em aspecto de “cauda de rato” e o crescimento torna-se difícil após a tosa. A cabeça e as extremidades costumam ser poupadas. 

Apesar de não haver coceira, esta pode aparecer em consequência de infecção secundária, seja por bactérias, Malassezia sp., demodiciose e seborreia. Há predisposição a hiperqueratose e seborreia seca e, consequentemente, pêlos sem brilho. 

As mudanças na produção sebácea são comuns, resultando em ressecamento, oleosidade ou dermatite seborreica. A seborréia é um achado clínico importante, uma vez que em muitos hipotireóideos esse é o primeiro sinal dermatológico.

Devido a essas mudanças, é comum o aparecimento de otite ceruminosa (infecção de ouvido por alta produção de cerúmen) e hiperpigmentação, especialmente em áreas sem pelo, axilas e região inguinal. Em casos mais avançados, ocorre o espessamento da pele devido ao acúmulo de componentes da pele chamado de mixedema, que comumente acomete pálpebras, testas e bochechas.

As alterações neuromusculares no hipotireoideo são descritas tanto em humanos quanto nos cães. A maioria das anormalidades neuromusculares centrais e generalizadas é causada pela falha nos mecanismos de controle da entrada e saída de substâncias dentro das células (bomba de sódio-potássio). 

As alterações no sistema nervoso central ocorrem, principalmente, devido a acúmulo de compostos orgânicos nas camadas que revestem os neurônios, aterosclerose ou grave hiperlipidemia (elevação da gordura no sangue). Os sintomas mais comuns incluem convulsões, ataxia, andar em círculo, hemiparesia, hipermetria e nistagmo, que geralmente aparecem com os sinais vestibulares ou com a paralisia do nervo facial.

As alterações no sistema circulatório contribuem para redução da força de contração cardíaca e consequente decréscimo do débito cardíaco devido ao aumento da resistência vascular sistêmica, ao decréscimo do volume vascular e à aterosclerose.

As alterações oftálmicas geralmente ocorrem secundariamente à hiperlipidemia e incluem lipidose corneal, ulceração de córnea, uveíte anterior, efusão lipídica no fluido ocular (humor aquoso), glaucoma secundário e deslocamento de retina.

A mensuração de T4 é rotineiramente utilizada como um teste de triagem na investigação do hipotireoidismo tendo 90% de sensibilidade caso esteja associada a sinais e sintomas clínicos e laboratoriais compatíveis com a doença. No entanto, essa dosagem hormonal sofre interferência de uma série de doenças não tireoidianas e de certos medicamentos, como glicocorticóides e anticonvulsivantes, que ocasionam a diminuição das concentrações hormonais para baixo dos valores de referência, levando a um diagnóstico falso de hipotireoidismo. 

Geralmente, quanto menor a dosagem de T4 total, maior a probabilidade de o animal apresentar hipotireoidismo.

Os testes para avaliação da tireoidite linfocítica visam detectar anticorpos anti-T3, anti-T4 e antitireoglobulina (anti-Tg) no soro de cães que apresentam tireoidite linfocítica, além de servirem como possíveis testes de triagem nos casos de hipotireoidismo ligados à herança genética.

A ultrassonografia é um exame simples que pode determinar o tamanho, a forma e a ecogenicidade da tireóide. A técnica pode revelar atrofia da glândula, o que torna o método de grande valia no auxílio do diagnóstico de hipotireoidismo.

O tratamento do hipotireoidismo tem como objetivo suplementar o hormônio tireoidiano em uma dose que controle os sintomas sem causar intoxicação. O ideal é que o animal apresente sintomas compatíveis com a doença e exames laboratoriais que comprovem o hipotireoidismo para iniciar o tratamento.

A administração 2 vezes/dia é recomendada no início do tratamento, principalmente para avaliar a resposta do paciente àquela medicação.

Se diagnosticado com precisão e tratado de maneira adequada, é uma condição que apresenta melhora do quadro a longo prazo. No entanto, muitas vezes a doença é diagnosticada tardiamente devido à dificuldade na interpretação dos resultados de testes mais adequados para o diagnóstico. Soma-se a isso a ampla variação nas apresentações clínicas, que podem mimetizar diversas doenças endócrinas e não endócrinas. 

Desta forma, busque orientação de um Médico Veterinário Endocrinologista e realize os exames para ter certeza sobre o quadro do seu melhor amigo.

 

informações tiradas do livro “Tratado de Medicina Interna de Cães e Gatos” – editora Roca

Colaboração: Lia Silva – estudante de veterinária, tosadora e proprietária de petshop.

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