Cientista de Ribeirão Pires participa de projeto pioneiro na cura do câncer

Embora tenha nascido em Santo André, a doutora Amanda Mizukami sempre morou em Ribeirão Pires e sua aplicação nos estudos levou-a a participar de um projeto avançadíssimo no campo da imunoterapia na USP de Ribeirão Preto – SP e que foi alvo de reportagem do Fantástico da Rede Globo levado ao ar no último dia 12.

Convidada pelo Mais Notícias, a ilustre ribeirãopirense concedeu a entrevista exclusiva que vai publicada abaixo.

Mais Notícias – A senhora nasceu em Ribeirão Pires, quando?

Amanda Mizukami – Nasci em Santo André em 1985, mas sempre morei em Ribeirāo Pires.

MN – Onde estudou?

AM -Cursei o ensino fundamental e médio no Externato Nerina Adelfa Ugliengo (ENAU).

MN – Qual sua especialidade?

MN  – Tem Mestrado, Doutorado? Se sim, por qual instituição?

AM – Ingressei na Universidade Federal de Sāo Carlos (UFSCar) em 2005. Com a certeza que seguiria a vida acadêmica, em 2009 fui aprovada para o curso de Mestrado em Biotecnologia na Universidade Federal de São Carlos, departamento de Engenharia química. Foi nesse momento que iniciei minha trajetória com células para aplicaçāo na terapia e medicina regenerativa. Continuar a carreira acadêmica cursando o Doutorado foi inevitável. Como o desenvolvimento do meu projeto de mestrado teve a parceria com o Hemocentro de Ribeirāo Preto, surgiu a oportunidade de eu prestar o doutorado em um programa recém-aberto pelo instituto, totalmente voltado para minha área de interesse: células- tronco. A moderna infra-estrutura dos laboratórios e a experiência do centro, foram os motivos que me fizeram mudar de cidade (Ribeirāo Preto) e ingressar no doutorado na área de concentraçāo de células-tronco e terapia celular em 2016 (Universidade de Sāo Paulo, USP). Em virtude das experiências positivas e enriquecedoras que tive ao longo do meu doutorado, decidi continuar no Hemocentro de Ribeirāo Preto e ingressar no pós-doutorado (área de Clínica médica) com um projeto extremamente relevante e promissor, pioneiro no Brasil: a imunoterapia. Em 2018, me mudei para os EUA e trabalhei como pesquisadora no Seattle Children’s Institute para aprender essa tecnologia e trazer para o Brasil. Todo conhecimento, experiência, também agregaram para que isso fosse possível! Apesar das dificuldades iniciais por se tratar de um nova pesquisa no instituto, fomos vencendo barreiras, buscando parcerias e os resultados subsidiaram o tratamento do primeiro paciente da América Latina com as famosas células T-CAR.

MN – A senhora enfrentou dificuldades para iniciar sua carreira, sendo que saiu de Ribeirão Pires?

AM – Como meus pais não tinham condições de pagar uma faculdade particular, fiz um ano de cursinho no Anglo em Santo André para tentar ingressar na tāo sonhada universidade pública. Como não consegui nesse primeiro ano, mudei para Sāo Paulo para mais um ano de cursinho no Etapa. Após dois anos de intensa dedicação, ingressei na universidade publica. A dificuldade sempre existiu pois meus pais sempre trabalharam duro para apoiar nossos estudos. Tive bolsas de estudo no cursinho e no primeiro ano de faculdade tive bolsa na iniciação cientifica.

MN – Qual o nome do projeto em desenvolvimento? Quais os benefícios esperados?

AM – Meu projeto em especifico é intitulado: “Estabelecimento de um bioprocesso para expansão de células T-CAR funcionais: nova fronteira para o tratamento do câncer”. A expectativa é que consigamos atrair investimentos para desenvolver novos alvos para outros tumores e que essa terapia possa atingir o maior número de pacientes possíveis. Investimento em pesquisa é necessário e urgente para trazer inovações no cenário nacional e beneficiar muitos pacientes. Vamos continuar lutando para salvar vidas!!

MN – Como entrou para a equipe de pesquisa?

AM – Comecei nessa pesquisa há quatro anos atrás para realização do pós-doutorado. Assim, integrei a equipe de produção de células para infusão no paciente. Gostaria de frisar que essa pesquisa é fruto de um trabalho em equipe em que cada um deu sua valiosa contribuiçāo. É muito gratificante e extremamente recompensador saber que o trabalho árduo de bancada fez a translaçāo para prática clínica com esse excelente resultado. A equipe é maravilhosa e muito competente. Muito importante também salientar que recebemos apoio financeiro de agências de fomento como Capes, CNPQ, Fapesp, Ministério da Saúde.

MN – Tem algum artigo ou trabalho publicado?

AM – Acabamos de publicar nosso artigo de pesquisa que forneceu as bases para desenvolver o protocolo clínico e chegar ao paciente. O artigo tem o titulo: “Establishment of a simple and efficient platform for CAR-T cell generation and expansion: from lentiviral production to in vivo studies” e foi publicado na Hematology, Transfusion and Cell Therapy.

MN – Como está o panorama para a realização de pesquisas científicas no Brasil? Quais facilidades ou dificuldades enfrenta?

AM – Estamos em uma situação muito difícil em que o investimento em pesquisa cientifica está cada vez mais escasso, com cortes no orçamento. Não há no Brasil uma política nacional ampla para investimento em inovação, com linhas de fomento sustentável, acordos com indústrias. Temos dificuldade em comprar reagentes, equipamentos, fazendo com que não consigamos ser competitivos no mercado internacional. Mas mesmo diante dessas dificuldades, seguimos na luta, fazendo ciência de altíssima qualidade e tentando beneficiar a sociedade como um todo.

MN – Gostaria de acrescentar algo mais?

AM – Eu gostaria de dizer que só cheguei até aqui através de muito esforço e estudos! Dizer para os adolescentes que batalhem pela educação e tentem fazer algo importante para a sociedade!  Lutem, cresçam e façam um mundo melhor!!

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