Torcer pelo caos é projeto de poder?

Uma das frases que, vez por outra, são repetidas à exaustão por políticos (ou pseudo-políticos) quando desejam fugir de algum embate é “não se discute eleição em ano ímpar”, uma alusão aos pleitos que, no Brasil, são (ainda) realizados bianualmente. Entretanto, no último final de semana, o PSDB – de uma forma meio atrapalhada – tentou trazer à baila esta discussão durante a convenção que reelegeu o senador Aécio Neves como presidente nacional da legenda.

Não é segredo para ninguém que, se o governo Dilma patina, a oposição tucana não fica atrás com um festival de “batidas de cabeça”. Não se vê no partido, concisão no que se quer, lembrando aquele garoto que, antes de aprender a nadar morre de medo de molhar os pés à beira do rio.

Dependendo da direção do vento, a nobre ave hora voa para o lado dos que desejam o impeachment da presidenta Dilma, hora para o lado dos que desejam vê-la sangrar e “pedir para sair”. Ainda assim, houve momentos em que, refestelada ao galho do conformismo, se recolheu ao ninho em busca de melhores condições de voo para 2018.

No meio deste conflito de personalidade, o partido voltou a pregar (ou apostar) na cassação do mandato de Dilma Rousseff e de seu vice, Michel Temer. Nas palavras um tanto quanto raivosas de Aécio (talvez ainda sob o efeito da derrota do ano passado), “dentro de muito pouco tempo, não seremos mais oposição. Vamos ser governo”. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso que de forma indireta chegou a poder em um desdobramento do impeachment de seu xará Collor de Mello, usou a experiência para ser um pouco mais contido nas palavras ao dizer que “estamos prontos, sim, dependendo das circunstâncias, para assumir o que vier pela frente”.

São palavras de duas gerações distintas que mostram o conflito existencial do partido. Do lado mais velho, parcimônia. Do lado mais novo, sabendo que o nome que cresce com mais força como candidato para 2018 é o do atual governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, há a pressa que já fez, inclusive, o partido perder o tempo certo de tentar tirar Dilma da presidência – algo deveras complicado, já que o Congresso, o ente político que, de fato, tem poder para isso não parece lá muito disposto a dar andamento à pauta.

Até a população já percebeu que, neste momento, não é interessante um processo de cassação, processo que criaria uma instabilidade econômica que demoraria décadas para ser superada. Se o PSDB realmente deseja retomar o comando do país, alegando que tem quadros e métodos mais eficazes, o melhor seria coloca-los a disposição e assim tentar ajudar não à presidente, mas ao país.

Lembrando que as urnas foram fechadas há nove meses, fazer campanha em prol do apocalipse não parece a melhor opção nem para o partido, nem para o país. Uma agenda construtiva, um pacto social em prol de um Brasil melhor é a melhor campanha, até porque torcer para o caos acontecer a fim de colher lucros eleitorais futuros (e assumir a administração em estado de desgraça) é parte de um projeto de poder pelo poder, não de país que, afinal de contas, é o que as tão faladas “vozes das ruas” pedem. Isso seria olhar para o próprio umbigo sem perceber o que há ao redor – e não ajudaria o país em nada.

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