Somos todos otários?

Convidamos o caro leitor a fazer um exercício de memória e lembrar por quantas vezes lamentou a falta de serviços públicos e privados de qualidade, reclamou de mau atendimento ou ainda comprou um produto que era muito bonito na foto, mas na verdade era algo que, se soubesse como seria, não teria comprado.

 

Mais ainda: investiu milhares de reais em um bem que, fosse comprado em outro país, teria custado metade do preço mesmo sabendo que ele foi fabricado aqui no Brasil. Certamente, as oportunidades que virão à mente serão mais de uma, talvez várias. Pois bem, um internauta teve a ideia de colocar todos esses questionamentos em vídeo, fazendo uso da Internet para veicular questões como essas e mostrando como grandes empresas, como a Volkswagen, TIM, Claro e Itaú, por exemplo, usam da ingenuidade do consumidor para lucrar alto. O Canal do Otário apareceu há poucos meses no Youtube e já acumula milhões de acessos justamente por mostrar que nem tudo é o que parece ser.

 

Em seu vídeo mais popular, remonta a um tema que já foi alvo desta coluna, o chamado “Lucro Brasil”, o quanto as montadoras de veículos ganham em cima dos valores cobrados pelos automóveis. Citando como exemplo o Gol, o vídeo mostra o quanto elas ganham cobrando do brasileiro mais que o dobro do valor aplicado em outros países por um carro simples, o chamado “pé de boi”, enquanto lá fora ele vem equipadíssimo.

 

Mesmo chula, a palavra “otário” se aplica a todos nós na visão estas (más) empresas. Há, no Brasil, a cultura do “caber no orçamento” que faz a todos gastarem muito mais por produtos inferiores em troca do parcelamento. Mesmo no Cartão de Crédito, os altos juros do rotativo (que chegam a até 418% ao ano) se devem única e exclusivamente ao financiamento dos que fazem compras parceladas “sem juros”, já que a loja recebe os valores independente do valor pago pelo cliente (qualquer valor entre o mínimo e o máximo) e de o mesmo ser adimplente ou não. Desta forma, é feita uma trama sutil, mas que envolve o consumidor sem ele saber. Ou seja: qualquer dívida no “dinheiro de plástico” torna-se impagável com o uso do pagamento mínimo.

 

O papel do Canal do Otário é mostrar ao consumidor o quanto ele é lesado sem perceber, seja no caso citado ou em outros, como o dos bancos que alegam “problemas no sistema” para não abrir contas básicas gratuitas (e obrigatórias por lei) a seus clientes, da Internet “ultrarrápida e ilimitada” 3G que, na verdade é exatamente o oposto ao oferecido ou até mesmo do sanduíche de fast-food que sequer caberia na embalagem se fosse igual ao apresentado nas fotos de publicidade. O respeito a pessoa, ao consumidor, deveria ser o primeiro ponto do estatuto de qualquer empresa e, infelizmente, não o é. Por isso, devemos usar a melhor arma que temos contra isso, simples e barata: não comprar. Quem sabe assim não parem de nos tratar da pior maneira ou, parafraseando o título dos vídeos: como otários.

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