Rodoanel: o erro estratégico que fez o ABC perder o bonde da história

Vista como a principal obra viária dos últimos tempos na Região Metropolitana de São Paulo, o Rodoanel chegou com pecha de ser a solução para a crise econômica e o êxodo empresarial que, há anos assolam a economia do Grande ABC.

Não é segredo para ninguém que (as poucas) empresas que estavam em Ribeirão Pires, por exemplo, foram embora para outros centros mais favoráveis, em um processo que vitima a cidade há anos. Em que se pese o esforço dos prefeitos em trazer novas indústrias, é um jogo de xadrez quase perdido que teve como protagonista o já citado Rodoanel.

Puxando pela memória, a construção, um anel viário que circunda a Região Metropolitana, cujo projeto original data de 1952, começou, como é conhecida nos dias atuais, no final dos anos 90 do século passado, com o Trecho Oeste e tem conclusão prevista para o ano que vem, com a entrega do Trecho Norte, tem como objetivo tirar o transporte de cargas das cidades. Como exemplo, um veículo que desejasse sair da Castelo Branco e ir rumo à Rodovia Ayrton Senna, por exemplo, não precisaria cruzar a Marginal Tietê, congestionando ainda mais o caótico trânsito paulistano. Ou seja: as cidades do entorno iriam dar sua “colaboração” para a Capital.

Entretanto, como o projeto foi feito por etapas, as cidades que saíram na frente fizeram a festa com a inauguração do primeiro trecho, em 2002. Destaque especial para locais como Osasco e Barueri, tão perto da Capital quanto as cidades do ABC, mas agora com a vantagem de contar com uma via expressa de ligação. Estas cidades, que já contavam com boa estrutura, livres de problemas comuns a locais como Ribeirão Pires, por exemplo, como a Lei Ambiental rígida, se tornaram irresistíveis para empresas que antes preferiam nossa região pela proximidade com o porto e as rodovias Imigrantes e Anchieta. A equação boa estrutura mais facilidade de despacho de produção, aliada a incentivos fiscais foi uma facada mortal no ABC, que se vê a caminho do colapso.

Para efeito comparativo, em 2014, as sete cidades do ABC tiveram, segundo o IBGE, um PIB (Produto Interno Bruto) de R$ 82,3 bilhões, enquanto a microrregião Osasco/Barueri teve R$ 71,7 bilhões de PIB. Ou seja, as duas cidades estão produzindo quase a mesma coisa do que a nossa região toda. Se compararmos com os dados de 2002, vemos que enquanto a microrregião aumentou em 400% seu PIB, enquanto as sete cidades aumentaram em 300%.

Coincidência ou não, ambos os munícipios contam com várias saídas para o Rodoanel, ligadas diretamente a seus condomínios industriais, ao contrário do que acontece no ABC, onde apenas São Bernardo e Mauá foram contemplados. Coincidência ou não, especialmente Osasco cresceu quase 500% desde que o anel viário foi inaugurado. Falando especificamente de Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, talvez não seja lá grande vantagem ter uma saída mais perto de Suzano do que das regiões industrializadas.

O mais provável é que os prefeitos da região tenham ficado acomodados em relação a situação. Se lembrarmos que a roda empresarial gira em busca dos menores custos e das melhores vantagens, o ABC pode ter perdido as rédeas da história. Resta saber agora o que fazer para retomá-las de volta.

 

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