Prisão de Átila Jacomussi deixa Mauá desnuda

E, perto do fim do ano, uma bomba cai sobre a política do Grande ABC com a nova prisão preventiva do prefeito de Mauá, Átila Jacomussi, acusado de diversos crimes envolvendo o desvio de recursos públicos.

Segundo a Polícia Federal, que efetuou a prisão por meio da Operação Trato Feito (desdobramento da operação Prato Feito realizada no primeiro semestre), entre 10% a 20% do valor dos contratos de nove empresas fornecedoras de bens e serviços para a Prefeitura eram repartidos entre 22 dos 23 vereadores da cidade que recebiam valores mensais devidamente anotados em planilhas. Apenas Marcelo Oliveira (PT) não fazia parte do esquema. Nas palavras da Polícia Federal, “de fato há indícios seguros de que esses vereadores recebem mensalmente recursos ilícitos de forma a integrar a organização criminosa que Atila Jacomussi constituiu e é mantida mediante corrupção”. Para piorar, as autoridades ainda asseguram que, mesmo preso, o prefeito de Mauá manteve o esquema em plena operação, o utilizando para se salvar de dois pedidos de impeachment que, coincidência ou não, tiveram 22 votos contrários exatamente dos beneficiários do esquema.

Esse fato mostra que, embora estejam sob a sombra dos canhões que estão virados à Brasília, os políticos das cidades (especialmente do interior) estão longe de ter o direito a se sentir invencíveis. Pelo contrário, é a partir das pequenas cidades que acontecem as grandes corrupções e as autoridades estão cientes disso já que a maior parte dos cerca de R$ 200 bilhões em perdas com a corrupção anualmente no país segundo a ONU têm essa origem seja por meio de “acertinhos” ou por corrupção direta. A questão é que o vazamento de recursos está universalizado e atinge todos os âmbitos.

Como já dissemos aqui mesmo neste espaço, as pequenas corrupções são a origem de tudo. No dia a dia, não há quem não conheça alguém que tenha usado um favor de um desconhecido para obter vantagens, seja para acelerar a liberação de um documento ou até mesmo para conseguir comprar um ingresso em um evento sem ter que disputar a espera com outros. Há também aquele que “quebra” (anula) uma multa, o que paga o “cafezinho” para que um fiscal faça vistas grossas para uma irregularidade na construção ou na vistoria do carro e por aí vai.

Não seremos aqui levianos de dizer que é uma exclusividade brasileira, longe disso. Mas a parte boa é saber que esses velhos hábitos estão sendo coibidos pelas autoridades. Antes tarde do que nunca.

Voltando a Mauá, talvez o mais surpreendente nem tenha sido a nova prisão de Átila Jacomussi, mas sim o fato de 95% da Câmara estar envolvida no esquema e correr risco, inclusive, de prisão. A situação é tão caótica que, embora tenha sido solicitado pelas autoridades, os 22 vereadores só não foram afastados porque o TRF-3 temeu pela governabilidade da cidade. Cabe ainda ressaltar que o caso pode ter desdobramentos, já que ainda não se sabe como e se o esquema foi usado para levantar recursos para outros fins como a mal sucedida tentativa de Admir Jacomussi, pai de Átila, em se candidatar a deputado.

Os nobres edis podem ter escapado da cadeia (por ora), mas ainda há a grande punição que está por vir e depende exclusivamente dos eleitores. Em menos de dois anos, teremos as eleições municipais e os 22 vereadores certamente ficarão na alça de mira. Que a justiça das urnas faça seu papel.

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