Ou se muda o sistema, ou perderemos o Brasil

“Não sei se o defeito é nosso, se o defeito é do governo. Mas eu acho que o PT perdeu um pouco a utopia. Hoje a gente só pensa em cargo, em emprego em ser eleito. Ninguém hoje trabalha mais de graça”. Essa frase, de autoria do ex-presidente da república Luiz Inácio Lula da Silva durante palestra ao lado do ex-primeiro-ministro da Espanha, Felipe Gonzalez, ganhou o noticiário nos últimos dias.

Se, por um lado, os “antipetistas” foram ao delírio com o que classificaram como uma “confissão de culpa” da mudança ideológica que o PT sofreu ao assumir o poder nacional, por outro a declaração pode ser estendida a todas as outras 32 legendas existentes no país, já que, em maior ou menor grau todas elas, sem exceção, têm se dedicado ao “balcão de negociação de apoios”, que nada mais é do que a institucionalização da troca de favores em prol do benefício do cargo público.

Os mais antenados na política percebem facilmente – especialmente às vésperas de eleições – como as opiniões de alguns parlamentares mudam de acordo com o vento, ou melhor, com as intenções no próximo pleito. O então gestor bestial, como em um passe de mágica, vira uma besta. O mais honesto dos políticos da face da terra pode virar um crápula, um mártir da corrupção. Tudo porque um “carguinho” outrora prometido lhe foi retirado de uma hora para outra ou porque o partido tem algum interesse maior e este, como soldado da legenda, resolve seguir a “renovada ideologia” via de regra sob a desculpa de estar observado as coisas sob uma ótica diferenciada.

Nessa classe também se incluem os “chupins de eleição”. Essa é uma espécie muito engraçada que parece sumir a medida em que as urnas são encaixotadas e reaparecem quando elas voltam a ser testadas ao próximo pleito. Eles vêm, prometem votos, mundos e fundos para os candidatos (preferencialmente os mais abastados) e, após serem “pegos na mentira”, migram com seu “apoio” rumo a outra vítima, ou melhor, político. E o que estes querem em troca? Bingo! Cargos!

Esses, contudo, se esquecem de uma coisa fundamental: para alguém levar vantagem, outros levam a pior – no caso, o restante da sociedade. Como podemos ver, Lula se referiu ao PT, mas todo o sistema está viciado, corroído pela corrupção e pelos defensores da Lei de Gérson. A reforma política é mais do que urgente, é vital para que a política brasileira saia da latrina em que se encontra.

Aliás, não há quem não tenha conhecido um político profissional que, não raro, se faz de coitado, de pobre arrependido, mas não passa de um lobo em pele de cordeiro – alguém que irá mudar do vinho para a água tão logo assuma seu cargo. Talvez seja a hora de uma reflexão paradoxal: e se a política deixasse de ser feita por políticos e sim por pessoas comuns?

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