Os jingles e a campanha eleitoral

A grande novidade destas eleições municipais tem sido a massificação dos jingles de campanha ou “dingos” para alguns menos letrados na língua inglesa. Aproveitando a carona de alguns dos hits do momento, centenas de paródias ganharam as ruas seja para candidatos mais famosos, como José Serra, que desembolsou cerca de R$ 100.000 para ter o direito de fazer uma paródia de “Eu quero Tchu, Eu quero Tchá”, da dupla João Lucas e Marcelo em sua campanha eleitoral, ou os menos conhecidos que fizeram o mesmo com esta e outras músicas, ainda que sem fazer o devido depósito na conta do Escritório Central para a Arrecadação de Direitos Autorais (ECAD).

Com isso, dá-lhe carro de som para todos os cantos da cidade, muitas vezes até mesmo misturando as canções, recurso outrora usado apenas por candidatos mais abastados e mais atrás ainda, apenas pelos majoritários. Fato é que as “musiquinhas” são uma excelente e reconhecida maneira de fixar o dado mais importante, no caso o número, na mente das pessoas – prova disso são as técnicas de memorização consagradas pelos cursinhos pré-vestibulares que as utilizam insistentemente para que os alunos não esqueçam, por exemplo, a Fórmula de Báskara (o famoso b²-4ac).

Nem é preciso dizer que o sonho de dez entre dez candidatos é que, nas ruas as pessoas cantarolem sua canção e se lembrem dela na hora de colocar seu voto na urna ou ainda que, quando ouvir a versão original, sucesso nas paradas, as pessoas se esqueçam da letra original e mentalmente lembrem que o candidato tem número X ou Y. Ou ainda que seu “dingo” gere uma disputa como a que aconteceu com “Collor, Collor” X “Lula Lá” em 1989.

Exageros à parte, nada temos contra os jingles, que hoje se tornaram uma maneira de se adaptar aos novos tempos em que os famosos “showmícios”, os comícios que contavam com a presença de artistas renomados, eram uma forma eficaz de colecionar e votos e forçar os munícipes a ouvir ao menos parte do discurso, já que as grandes bandas compareciam aos palcos apenas após a fala do candidato de plantão. Hoje, consagrados como “abuso de poder econômico”, já que os artistas mais caros e que chamam mais a atenção dariam “apoio” a quem pagasse mais, foram banidos, tornando a missão de se fazer ouvido pelo eleitor muito mais complicada e dependente de tempo e criatividade.

O que deve ser combatido, não só em relação às músicas, como também em relação a todo o material de campanha, é o exagero. A propaganda deve ser feira de maneira adequada e respeitando as normas, para que ninguém se sinta prejudicado – ou incomodado. Em tempo: “dingo”, segundo o dicionário e a zoologia é uma raça de cão selvagem originária da Austrália, com cerca de 1,5m de comprimento…

Compartilhe

Comente

Leia também