Os fatos mostram: é preciso desarmar a população

Em mais um triste capítulo do mondo cane em que vivemos no Brasil, o ataque de uma dupla de lunáticos a uma escola causou a morte de mais de uma dezena de adolescentes em uma escola estadual da cidade vizinha Suzano.

Não iremos aqui discorrer sobre os detalhes do crime (a que o caro leitor já deve ter tido acesso), mas sim ao fato de que um jovem menor de idade, acompanhado de outro maior, teve acesso a armas de todos os tipos, brancas e de fogo, tendo tempo de planejar, preparar e executar um verdadeiro massacre que, em muitos aspectos, copiou o modus operandi de fato similar que completará 20 anos em abril ocorrido na cidade de Columbine, nos Estados Unidos.

Dentre as inúmeras insanidades e bobagens que são ditas em fatos como esse, uma em especial chamou a atenção: a do senador Major Olímpio, afirmando que um professor armado teria evitado a tragédia. Sem juízo de valor, esta é uma frase que entra no rol das que nunca deveriam ter sido ditas. Pensando racionalmente, qual seria a chance de um cidadão sacar um revólver para defender a si e uma dezena de crianças antes que um bandido qualquer, já armado e disposto a usar seu poder de fogo, impedir ação? O ato inicial antes de buscar o revólver em algum local escondido seria pedir ao meliante para que esperasse pacientemente enquanto se arma?

Ironias a parte, o caso é uma triste prova inconteste de que terceirizar a defesa pessoal ao cidadão está longe de ser uma solução. Pelo contrário, apenas aumenta as chances de que armas adquiridas legalmente acabem em mãos erradas. Isso para não falar de atos, parafraseando o ministro da Justiça Sérgio Moro, “motivados por forte emoção” que podem desencadear em tragédias. Ou ainda de adolescentes que, tomados pela intensa descarga hormonal típica da idade, tem meios eficazes de, por exemplo, dar cabo da própria vida ao primeiro sinal de desilusão amorosa.

Fato é que, em meio a discussão sobre uma flexibilização total do porte e posse de armas, uma tragédia traz à luz a reflexão sobre os ônus de tal medida. Será que vale mesmo a pena, sob o argumento de armar o chamado “cidadão de bem”, deixar instrumentos criados única e exclusivamente para matar à mão de lunáticos como os da tragédia desta semana? A demora do presidente da república, declarado defensor de tal medida, em se manifestar sobre o fato ocorrido instantes depois de ter declarado a jornalistas a intenção de facilitar o porte de armas é uma mostra de que até ele deve ter refletido sobre o assunto.

Em uma sociedade em que grande parte dos homicídios ficam sem solução, a única saída possível é dificultar a execução de tais crimes, extinguindo de vez a posse de armas, seja do cidadão ˜de bem” ou “do mal”, se é que é possível fazer tal dicotomia. Medida dura? Pode ser. Mas que trará menos sofrimento do que perder mais vidas inocentes.

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