O homem é eternamente escravo de suas palavras

“É mais fácil vaca voar do que eu aceitar ser vice de Marta”; “Marta teve uma administração nefasta”. Essas duas frases, pinçadas dentre muitas outras da mesma natureza, foram de autoria da mesma pessoa, no caso Andrea Matarazzo (PSD), quando ainda militava no PSDB e era oposição a Marta Suplicy, tanto como prefeita de São Paulo quanto pré-candidata a prefeita da capital pelo PMDB.

Mas, vida como ela é, não é que, de uma hora para outra, os outrora inimigos esqueceram das diferenças e surgiram de mãos dadas anunciando uma improvável aliança para as eleições deste ano? Mas, como bem sabemos, em tempos de Internet para todos, a memória não é mais traidora, já que pode ser “refrescada” com simples frases digitadas no Google. Em poucos minutos, as “opiniões sinceras” de Matarazzo sobre sua companheira de chapa voltaram à tona.

Mesmo em tempos de descrença na classe política, não deixa de ser inusitado vê-la desnudada em sua pior forma, aquela que a população, definitivamente, não suporta mais. Obviamente não seremos hipócritas a ponto de achar que “inimigos íntimos” não possam virar melhores amigos, ou melhor, aliados, uma vez que isso acontece repetidamente na “grande arte de governar pessoas”, mas, da mesma maneira, não podemos esconder que esse é um dos grandes motivos que formam pessoas descrentes na política.

Venhamos e convenhamos, na “vida real”, declarações como as de Andrea Matarazzo seriam um ponto final em qualquer relação. E não seria uma simples declaração de término. Dependendo do garbo e elegância de quem a fizesse poderia acabar em tribunais, pancadaria ou até mesmo em um constrangedor anúncio público (como fez o empresário paulistano Tutinha, dono da Jovem Pan, ao anunciar aos quatro ventos que sua ex-esposa levou sua coleção de quadros ao deixar a então morada do casal).

Isso posto fica difícil (para não dizer impossível) ao cidadão comum entender o porquê de tantas reviravoltas, desses perdões para situações que (mais uma vez) no mundo real seriam irreconciliáveis. Esse tipo de postura passa imagem de falsidade, mentira e hipocrisia que acaba “grudada” na classe política – mesmo que boa parte dela não mereça carregar essa pecha.

Nestas eleições, o grande desafio dos políticos está em resgatar a confiança do eleitorado que, embora esteja hoje avesso e descrente, busca uma nova perspectiva. Isso explica muito da disposição em dar voto de confiança a novos nomes que tragam, ao menos, a esperança de dias melhores.

Para finalizar, deixamos uma frase aos políticos que adoram mudar de opinião e abraçar velhos aliados apostando na amnésia coletiva: “O homem é eternamente escravo de suas palavras”.

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