O dono da palavra e o dinheiro da propina

A cada dia, os resultados das investigações sobre corrupção têm colocado o Brasil nos eixos resolvendo antigos e novos casos. Esta semana, a mais recente etapa da Operação Lava Jato, por exemplo, colocou o senador Delcídio (do) Amaral (PT) e o banqueiro André Esteves, do BTG Pactual na prisão.

Mas, aqui ao lado, em Santo André, envolvidos em outro caso, o que vitimou o prefeito Celso Daniel em 2002, também tiveram seu encontro com a Justiça – ainda que não pelo caso em questão. A 1.ª Vara Criminal de Santo André condenou os empresários Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, e Ronan Maria Pinto (proprietário do Diário do Grande ABC), além do ex-secretário de Serviços Municipais da cidade, Klinger Luiz de Oliveira Sousa, a prisão acusados de liderar esquema de cobrança de propina de empresas de transporte contratadas na Gestão Daniel.

Sombra e Klinger foram condenados a 15 anos, seis meses e 19 dias de reclusão, em regime fechado, além de multa pelos crimes de concussão e corrupção passiva. Já Ronan Maria Pinto, pelos mesmos delitos, foi condenado a 10 anos, quatro meses e 12 dias de reclusão, também em regime fechado. Segundo a sentença, todos eles enriqueceram com base no funcionamento no esquema ilegal.

Os detalhes foram prestados pelas vítimas do esquema que, em suma, tinham que pagar mensalmente à quadrilha, R$ 500 por ônibus em circulação para evitar “sanções administrativas” que envolviam, por exemplo, a aprovação de linhas concorrentes para minar o lucro. Ronan era o “arrecadador”.

Cabe lembrar que, recentemente, ele teve seu nome envolvido em uma suposta chantagem sobre Lula, Zé Dirceu e Gilberto Carvalho para não citar seus nomes como envolvidos na morte de Daniel. O valor, R$ 6 milhões, teria sido pedido a Silvio Pereira, então secretário geral do PT e a Marcos Valério (o mesmo do Mensalão) em 2004 para a compra de um jornal – no caso o Diário do Grande ABC.

Do ponto de vista da imprensa, não deixa de ser um duro golpe. Afinal de contas, estamos falando de uma publicação com anos de história, referência no Grande ABC que, embora ainda mantenha sua importância, está com o verniz arranhado pelo fantasma do dinheiro ilícito. A boca pequena, políticos relatam episódios de mal-estar com a publicação por conta de supostos “pedidos especiais” não atendidos. Bem, considerando este histórico, caso essas histórias sejam verdadeiras, não seria surpresa.

O pior de tudo é que esse comportamento nefasto não é exclusividade desta publicação. Aqui e ali, em diversas cidades, nos mais diversos tempos da história, há proprietários de veículos que fazem coisas parecidas, usando a chamada “indignação seletiva” para publicar o que é ou não “interessante”. Há até mesmo quem explicitamente emita cobranças mensais por isso – o que vai contra todo e qualquer preceito.

Esperamos sinceramente que tais denúncias não se confirmem. Outrossim, teremos irreparável e lamentável mancha na história da imprensa do ABC.

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