Nuvem de papeis: crime contra a natureza e a democracia

O último domingo e a segunda-feira pós-eleição fez Ribeirão Pires viver um verdadeiro tormento, com os milhares de papeis que foram largados nas ruas pelos candidatos da cidade, fazendo com que uma verdadeira nuvem de papeis atrapalhasse a vida de todos não só aqui como em muitas cidades do país. Resultado: além de lembrar a época dos panfletos jogados de avião, diversos acidentes (e quase acidentes) foram reportados em todas as partes da cidade.

Uma solução adequada seria encaminhar todo este material à reciclagem

Pela legislação eleitoral, a distribuição de propaganda de candidatos só era permitida até o último sábado e os cabos eleitorais que a fizeram depois disso estavam sujeitos a prisão. Entretanto, como a “tempestade de papeis” foi feita durante a madrugada, não houve flagrante, mas não faltaram relatos. Houve um cabo eleitoral que foi visto, de acordo com um leitor, jogando um pacote repleto de “santinhos” em uma escola.

Na madrugada da última quinta, a reportagem do Mais Notícias foi surpreendida com milhares de panfletos contra o candidato Saulo Benevides jogados nas ruas da cidade, em especial a Rua Olímpia Catta Preta, onde fica a sede do jornal.

Segundo Evandro Marques, morador da Vila Aurora, por muito pouco os papeis jogados nas ruas não causaram um acidente: “Estava bem em frente ao Colégio Dom Jose Gaspar, de moto. Ao tentar brecar com todos aqueles papeis, quase bati em um carro e em pedestres e isso porque estava quase parando bem na frente do portão de entrada. E se atropelo algum pedestre, como fica?” A professora Nanda Salima também relatou um incidente similar: “tomei uma chuva de papel hoje, em frente ao Emílio Sortino e, com a ventania, os papeis voam todos no rosto das pessoas. E se voar em cima dos carros? Se atrapalhar a visão? É um acidente feito…” Ainda nesse tema, o vento, em frente ao Colégio Bandeiras, causou uma verdadeira tempestade de papeis, que atrapalhou – e muito – os motoristas. Em frente ao Felício, há relatos de uma coluna de 4 cm de papeis e de carros, que ao não conseguir brecar chegaram a colidir contra outros que estavam estacionados.

Fora isso, há uma grande preocupação com a chuva que transforma o “forro” de papeis em uma verdadeira lama. A parte da limpeza está resolvida, já que a Prefeitura informou que o “Departamento de Limpeza Urbana da Prefeitura iniciou a limpeza das
ruas logo após o término do período de votação”. Entretanto, há um problema ainda maior, que é o que fazer com os dejetos e também o que fazer com eles.

Em Ribeirão Pires, foram quase 400 candidatos, entre postulantes ao cargo de prefeito e vereadores. Considerando que cada um deles tenha encomendado 10 mil panfletos do tamanho de meia página padrão, o famoso tamanho “A4”, o que daria mais ou menos uma folha de 15 X 30 cm. Neste caso, seriam gastos 104 toneladas de papel (cerca de 26 Kg por candidato) que, por sua vez, considerando o consumo médio estimado de 540 litros de água por quilo, teriam gasto 648.960 litros do precioso líquido. Ou seja, além da sujeira e do incômodo, o material deu um belo prejuízo à natureza.

 

Soluções – Ok. Então, o que fazer? Uma solução adequada, porém paliativa, seria encaminhar todo este material à reciclagem. Desta maneira, o prejuízo ambiental seria minimizado, já que com o reaproveitamento dos papeis, poderíamos evitar ainda mais danos ambientais do que já foram causados. Em Ribeirão Pires, isso não será feito já que, de acordo com a Prefeitura, “o material recolhido será encaminhado a Lara”, ou seja à empresa que coleta o lixo doméstico ainda que exista na cidade (com apoio da própria Administração) a Cooperpires, que é a cooperativa de coleta de materiais recicláveis. Desta forma, eventuais lucros com o reaproveitamento foram, literalmente, extintos. O mais inteligente seria fazer uma campanha sem a utilização deles ou com redução na utilização dos panfletos, priorizando outros meios, como rádios, jornais e revistas. Desta forma, alem de preservar a natureza, ainda evitaríamos transtornos como os citados acima. Fica a pergunta: como confiar que o candidato em questão irá cuidar da cidade se ele não se preocupa em manter as ruas limpas?

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