Martin Luther King e o lado podre dos brasileiros

Na mesma semana em que se celebra 50 anos de um dos mais famosos discursos da história da humanidade, o de Martin Luther King após uma marcha em prol do fim das políticas racistas e pela ampliação dos direitos civis nos Estados Unidos, nós brasileiros temos que nos envergonhar de declarações infelizes feitas em diversos pontos do país que tiveram seu ápice nas palavras de uma jornalista do Espírito Santo a respeito dos recém-chegados médicos cubanos.

A pessoa em questão, de nome Micheline Borges, afirmou que as profissionais centro-americanas tinham “cara de empregada doméstica” e “não tem postura” de médicos após pedir perdão pelo preconceito. O comentário, feito em uma conhecida rede social, gerou revolta e, exatamente por isso, repercutiu nacionalmente.

Isso mostra que o quanto o mau uso dessas redes pode causar danos pessoais e até mesmo sociais. Esta jovem externou todo o pré-conceito existente em seu íntimo, o chamado “lado podre” que, ao alcance do teclado foi externado. O mesmo que, por sinal, apareceu no Ceará, quando um grupo que está sendo capacitado na Escola da Saúde Pública, em Fortaleza, os chamou de “escravos”, em uma clara alusão racista, baseada novamente em pré-conceitos que há muito deveriam ter sido extintos, desta vez sob o verniz de que parte dos R$ 10 mil em salários que eles irão receber ficarão com o governo cubano, nada diferente do que acontece aqui mesmo no Brasil sob a denominação de imposto. A diferença é que na maior parte dos países do mundo, mesmo em Cuba, os serviços públicos são substancialmente melhores.

Ainda que associações médicas aleguem que há profissionais sobrando no mercado, é curioso ver que, quando mais longe fica a cidade dos grandes centros, menor a quantidade de médicos disponíveis. Podemos citar inclusive Ribeirão Pires que abriu concurso público recentemente e não teve inscritos o suficiente para o preenchimento das vagas. Indo mais além, a cidade de Novo Santo Antônio (MT), paga R$ 30 mil mensais para manter uma única médica em seus quadros. O valor, segundo o secretário de saúde, é pago porque não há interesse dos profissionais. O mesmo drama se aplica a Santa Luzia (MG) que desde janeiro tenta encontrar 21 médicos dispostos a trabalhar na localidade recebendo R$ 12 mil.

Vendo esses problemas, é mais do que justificável e louvável a iniciativa de se trazer médicos estrangeiros para ocupar essas vagas, lembrando que estes médicos não vêm para competir no mercado, mas sim para ir “onde os brasileiros não vão”, como disse um dos cubanos vaiados. Mais do que isso, esse intercâmbio será saudável para as cidades que deles necessitam e também para os próprios brasileiros, que poderão trocar conhecimentos e experiências.

Mas antes disso, é preciso usar a sabedoria, ler e interpretar as palavras de Luther King que em 28 de agosto de 1963 disse “eu tenho um sonho” e esse sonho era o de ver homens e mulheres, meninos e meninas juntos como irmãos, de mãos dadas, independente de credo ou cor. Talvez refletir sobre as históricas palavras é o que falta aos brasileiros.

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