Largar o osso? Ninguém quer

Nos últimos dias temos visto exemplos ímpares de apego ao poder. Alguns seriam cômicos, não fossem trágicos. O mais evidente (e recente) deles foi a “negociata suprema” que permitiu a manutenção de Renan Calheiros como presidente do Senado, em operação que envolveu até mesmo um ministro do Supremo que estava fora do país, além de incrível pressão sobre o sucessor, o vice-presidente Jorge Viana que chegou a cogitar renúncia.

No final, ele foi salvo sob alegação de que sua saída implodiria o governo Michel Temer. Falando no atual presidente, é notável como sua governabilidade se dissolve como areia a cada dia. Após ser alçado ao cargo sob justificativa de que iria ser o mártir anticorrupção, vê sua gestão, a cada dia que passa ser tragado pela própria… corrupção. Há quem diga que seu governo possa durar menos que uma gestação, talvez por culpa de uma interpretação exagerada do trecho mais famoso de “Il Gattopardo”, obra prima de Giuseppe Tommasi di Lampedusa, a fala do Príncipe Fabrizio Salina: “É necessário que tudo mude se desejamos que tudo permaneça como está”. E, nesse caso, deixar como está é o segredo do fracasso.

São exemplos nacionais que também têm similares regionais, como os três integrantes do secretariado do prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, que foram presos por desvios financeiros na obra de construção do Museu do Trabalho e do Trabalhador, que deveria ter sido concluído há anos, mas está “empacado” e deve se tornar uma Fatec ou um Centro Cultural.

Por todo o canto, há mais e mais exemplos disso. São empresários que “graciosamente” dispõem de vultosas quantias em dinheiro para campanhas eleitorais, alguns até mesmo deixando de honrar compromissos com partes vitais de seu negócio, como funcionários e fornecedores. São pessoas que fazem uso do “canto da sereia” para tentar convencer derrotados a tentar uma vitória no “tapetão”. Há ainda aqueles que engolem o orgulho para tentar obter algum benefício, com alianças que ninguém compreende.

Mas, o que será que tanto encanta? Será que a vontade de melhorar a vida das pessoas ou a pura e simples vontade de ter a caneta na mão? Ninguém explica a sanha de alguns em tomar o poder a todo custo. Alguns ainda usam de métodos mais desonestos como a já citada “pós-verdade”, fazendo com que pessoas comuns se tornem multiplicadores de mentiras que, no final, são meras ferramentas para a publicidade pessoal de uns e outros.

Voltando ao cenário nacional, vemos que alguns pré-candidatos a presidente já andam colocando as asinhas de fora, externando seu desagravo a algumas medidas do governo, como a PEC do teto e a reforma da Previdência e até mesmo cobrando uma eventual renúncia de Michel Temer. Agora, dada a situação atual da política e dos políticos brasileiros, seria pelo país, pelo povo ou pelos próprios interesses? Difícil responder. Afinal, como diz um amigo de um de nossos colaboradores, morador do interior do estado, “esse tar de pudê deve ser bão dimais da conta. Ninguém quer largar dele, sô!”

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