A Geleia Geral e a desinformação como forma de lucro

“Um poeta desfolha a bandeira e a manhã tropical se inicia resplandente, cadente, fogueira num calor girassol com alegria na geléia geral brasileira que o Jornal do Brasil anuncia”. É a Geleia Geral aventada por Décio Pignatari e eternizada na canção de mesmo nome na época do Tropicalismo por Gilberto Gil que chegou.

Senhoras e senhores, vivemos a época da desinformação, época da enganação. É a hora de salvar o próprio umbigo afogando o de todo o resto. Pois é. Sob o novo nome de pós-verdade (a palavra de 2016), a Geleia Geral chegou para ficar!

João Dória em São Paulo falou tudo o que o povo queria ouvir. Foi eleito e lançou a verdade que era bem diferente disso – começando pela redução da velocidade nas marginais, o “carro chefe” (sem trocadilho) de sua campanha. Michel Temer, em seu momento sincero, “previu” que “o impeachment (…) geraria uma crise institucional” em março de 2015. Um ano depois, se colocou como salvador da pátria e mostrou, ora pois, que a verdade era bem diferente disso. Em comum a ambos, além da redundância proposital do texto, está a paixão em “desdizer” o que foi dito. Para não sermos injustos aqui, o clube dos que ainda hão de “desfritar” um ovo pode contar com Dilma Rousseff e seu “não mexerei em direitos trabalhistas nem que a vaca tussa” e Donald Trump com seu “muro na fronteira pago pelo México”.

Mas todos eles não seriam quem são não fosse a horda de zumbis que trabalha a favor de seus propósitos munidos daquela que é a ferramenta mais simples de espalhar boatos, a grande “rádio peão” do planeta: o Facebook.

Uma equação simples explica: a rede social cria “bolhas” que filtra os assuntos de acordo com seus interesses, calculados de acordo com curtidas, compartilhamentos e interações com os posts. Então, ele tende a exibir na sua linha do tempo os assuntos que são de interesse, com o objetivo de prender a atenção, aumentar a presença no sistema e assim ganhar (muito) dinheiro com anúncios direcionados de acordo com seus interesses. Desta forma, via de regra, o “Fêici” é bacana porque mostra o que você quer ver. Ou seja: a pessoa lê o que deseja, não a realidade dos fatos. Sabendo disso, marqueteiros usam e abusam do direito de postar falsas notícias. Isso, em período eleitoral é uma tentação enorme que, não raro, não sofre qualquer resistência.

Por isso, vale sempre o aviso. Cuidado com que você lê na rede. Aquele site fofinho, cheio de fotos de cachorrinhos, pode ser uma grande cilada. Aquela informação que parece real e bate exatamente com sua linha de pensamento em relação a determinado assunto pode ser falsa.

O mesmo cuidado que devemos ter com veículos de comunicação físicos (como uns e outros que aparecem e somem a cada eleição), deve ser adotado com os virtuais que, como todos sabemos, podem desaparecer ao toque de um botão sem deixar rastros. Por isso, a importância em existir veículos de comunicação idôneos, de credibilidade comprovada e com responsabilidade em publicar os fatos como eles são – nem sempre o que os leitores desejam que aconteça. É o domínio do chamado “misinformation”, ou seja, a informação falsa de propósito com fins de beneficiar uns e outros que, não raro, aguardam nas sombras enquanto o circo pega fogo.

Para fechar, uma reflexão extraída de outra canção, desta vez da banda australiana INXS, que citava o “misinformation” há 24 anos – aqui traduzido livremente como desinformação: “Comunicação, desinformação. Entretenimento. Dinheiro sangrento”

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