Fábrica de Sal é tombada e vira patrimônio histórico do Estado

E, após quase um ano de discussões e polêmicas, o futuro da Fábrica de Sal está garantido. Em decisão anunciada na última segunda-feira (12), o Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo) decidiu pelo tombamento do histórico edifício, que fica localizado no Centro Alto de Ribeirão Pires.

Condephaat aprovou tombamento esta semana

Condephaat aprovou tombamento esta semana

Nascida como Molino di Semole Fratelli Maciotta (Moinho de Trigo Irmãos Maciotta), a edificação foi construída em 1898, durante o período da industrialização paulista, em conjunto com a estação Ribeirão Pires da então São Paulo Railway (hoje CPTM), que também é tombada. A localização estratégica, junto à ferrovia, e a proximidade do Porto de Santos, na Baixada Santista, facilitavam o transporte dos grãos importados e do produto acabado.

Ao longo do tempo, o local teve diversos usos, mostrando sua versatilidade, tendo sido, segundo dados levantados pelo Centro de Apoio Técnico ao Patrimônio (CATP), um depósito de pólvora na Revolução Constitucionalista de 1932, uma fábrica de seda (1938/39), de adubos (1940-1942) e a sede da Indústria e Comércio de Sal C. Cotellessa S.A (1943-1996). Após 5 anos de inatividade, foi desapropriada em 2001, sendo remodelada e reinaugurada como Centro Cultural em 2004. Em 2009, o prédio foi interditado, ficando sem uso até o tombamento ocorrido esta semana.

Nesse ínterim, foi apresentado o polêmico projeto de cessão da área a iniciativa privada por 99 anos para a construção de um Shopping Center, fato esse que motivou a luta pela preservação do espaço. Com efeito imediato, a decisão sepulta o projeto (ao menos naquele local), uma vez que o tombamento incide sobre toda a área, abrangendo também as instalações da biblioteca e da Escola Municipal Lavínia Figueiredo Arnoni, com destaque para o corpo central do edifício e sua chaminé.

Deborah Neves, historiadora da UPPH (Unidade de Preservação do Patrimônio Histórico da Secretaria da Cultura do Estado), ressaltou a importância da preservação do edifício como exemplar da arquitetura industrial voltada à produção de alimentos e das pequenas indústrias constituídas com baixo capital privado estrangeiro: “o tombamento pode estimular a produção de conhecimento acerca dos municípios que compõem a Região Metropolitana de São Paulo, sempre ligados à história da Capital. Há dinâmicas muito particulares destes municípios que podem trazer ainda mais conhecimento e compreensão para a história do Estado, especialmente no tema do patrimônio industrial.

O ex-coordenador do CATP, Marcílio Duarte, ressaltou que “o tombamento do antigo Moinho de Trigo é a prova de que o Poder Público pode atuar em conjunto com a sociedade. Aqueles que eram contra o patrimônio, foram vencidos por uma força conjunta de órgãos técnicos e movimentos sociais, que levaram ao reconhecimento do Moinho de Trigo como parte do patrimônio cultural do Estado de São Paulo. Um agradecimento especial deve ser dado a Raul Maciotta, neto de Ottavio Maciotta, que disponibilizou todos os documentos da família. Se não fosse por ele, não teríamos lastro para justificar o pedido”.

Em nota, a Prefeitura de Ribeirão Pires comentou o processo: “Agora que o prédio está oficialmente tombado, a Prefeitura celebra a conquista. Assim, os projetos de manutenção e preservação da área continuam, inclusive as rondas da GCM e, a conservação do entorno”, contudo, ressaltou que o projeto do Shopping será mantido: “Toda a intervenção na área tombada pode acontecer mediante prévia autorização do órgão do patrimônio, assim, independente do tombamento, o projeto do shopping não é afetado”.

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