É preciso agir para acabar com a crise

“Pior do que a crise é a sensação de crise”. Essa frase, que virou uma espécie de mantra entre os economistas reflete muito bem o sentimento vigente na sociedade brasileira. Onde que quer que se vá, nas rodas de conversa, o assunto entra em pauta.

Entretanto, uma pesquisa realizada entre abril e maio pelo Pew Research Center, instituto que faz análises globais da economia, mostra que o problema, na verdade, é globalizado. Foram entrevistados moradores de 40 países, entre eles o Brasil. E, para surpresa quase geral, vemos que a sensação de crise não fica apenas aqui.

Separando o estudo em três grupos – avançados, emergentes e em desenvolvimento – temos índices muito próximos de “pessimistas”: 56% do primeiro grupo, 55% do segundo e 54% do terceiro avaliam a situação econômica como ruim. Dentro do BRICS (grupo formado por Brasil, Russia, Índia, China e África do Sul), a pior percepção é do Brasil, com 87% da população classificando a economia como ruim (índice melhor apenas do que Ucrânia e Líbano entre os emergentes). A melhor é da China, cuja opinião geral é inversa: apenas 8% acham que a situação econômica está ruim. Na comparação com os países desenvolvidos, nosso país se equivale a Itália (88% ruim), França (85%), Coreia do Sul (83%) e Espanha (81%).

Um momento de pouca confiança se reflete diretamente no dia a dia. Lembrando que nossa economia é dolarizada e “créditodependente”, vemos que as pessoas, via de regra, têm adiado suas compras – especialmente as de maior valor, como carros e casas e evitado alguns gastos como viagens e bens de consumo de luxo, mesmo que estejam reunindo condições para tal. Com isso, a roda da economia diminui sua velocidade, gerando queda de produtividade e, no final do ciclo, fechamento de empresas e desemprego.

Quando o ex-presidente Lula pediu para que os brasileiros não parassem de consumir na crise da década passada, dizendo que não se tratava de um tsunami, mas sim de uma “marolinha”, o objetivo era justamente evitar a recessão o que, anos depois, foi visto como uma medida acertada. Sem esse cuidado, a atual gestão colaborou muito para que a “sensação de crise” se acentuasse. O brasileiro, este ano, vive um inferno astral nas contas mensais, com altas nas contas de água, luz, impostos, tarifas bancárias, alimentação, enfim, no básico para manutenção de sua vida. Isso, aliado a alta das taxas de crédito que, verdade seja dita, foi a base para a evolução no padrão de vida de muitos brasileiros, faz com que a situação possa ser considerada crítica.

A solução passa pela volta da confiança da população na política econômica. Além disso, é urgente uma ação efetiva por parte do governo com o corte de gastos públicos, um enxugamento da máquina administrativa, que passa, prioritariamente, pela redução nos custos como, por exemplo, corte de ministérios. Ajudaria também que o mercado não fosse tão dependente do dinheiro público já que, hoje em dia, raras obras privadas não contam com a “mão amiga do Estado” personificada no BNDES.

A população e o mercado já mostram que não terão paciência para acompanhar o ritmo lento das mudanças propostas pelo ministro Joaquim Levy e sua equipe. Prova disso é que a Standard & Poor’s, uma das mais importantes agências de classificação de risco do mundo, já sinalizou que pode classificar o país como não seguro para investimentos em breve. Ou seja: a solução precisa ser rápida.

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