E o Governo, como vai?

“O que será, que será? / Que andam suspirando pelas alcovas / Que andam sussurrando em versos e trovas / Que andam combinando no breu das tocas / Que anda nas cabeças, anda nas bocas”. Os versos escritos por Chico Buarque na canção O que será?, de 1976, há exatos 40 anos, se aplicam perfeitamente ao momento atual.

O leitor mais desatento, inclusive, poderia até pensar que eles foram escritos recentemente, dada a situação atual do governo brasileiro – ou desgoverno. O vice, Michel Temer, abertamente, conspira pela deposição da titular que, também abertamente, fala em “infernizar” um eventual governo de seu sucessor.

A mesma presidente, que não conta com total simpatia popular, se vê acuada a ponto de estar apenas esperando pela ordem de deixar a cadeira vaga. O seu “companheiro de chapa”, que também não conta lá com muita simpatia, “vaza” abertamente um discurso de posse e a composição do ministério que, por sinal, já conta com recusas.

A presidente defende que sofre golpe já que, em sua visão (compartilhada por uma parte da população), houve uma “manobra legal” para encaixar as chamadas pedaladas fiscais como um motivo plausível para o impeachment. Já seu vice, que não chega a defender o motivo da saída, também não chega a condená-lo, se prostrando em posição de aguardo, já que o desfecho da situação lhe favorece.

O mesmo vice, aliás, fez do Palácio do Jaburu uma espécie de QG do governo paralelo, onde os suspiros e sussurros há muito deixaram as alcovas e já ganham as páginas de jornais e de sites. Já no Palácio do Planalto, uma imobilidade assustadora capitaneada pelas negociações frustradas e busca por uma tentativa de vitória que aparece em remoto horizonte.

Paralelo a isso, o silêncio que se mostra constrangedor de vorazes críticos ao governo, como os mais diversos Movimentos Virtuais e do próprio juiz Sérgio Moro, comandante da Lava Jato que, após a aprovação do impeachment, desapareceram. Por outro lado, não menos silenciosos estão os Movimentos Sociais que, mesmo declarando em alto e bom som temer a perda de conquistas recentes, também não se manifestam. Talvez tenham dado as mãos contra o corporativismo da Anatel em apoiar as restrições de acesso na internet fixa, vai saber.

Enquanto isso, o povo brasileiro, aquele que acorda cedo e luta pelo pão de cada dia aguarda, já que o “breu das tocas” (vulgo Congresso) não trabalha de fato desde novembro do ano passado, quando entrou em recesso, já que, depois disso, a pauta única foi o impeachment. Nesse meio tempo, pautas de relevância nacional, como a reforma tributária e, porque não, a reforma política, ficaram paradas aguardando pelo posicionamento dos senhores congressistas. Até mesmo uma audiência pública para tratar sobre os desdobramentos da lama de Mariana e uma nova regulamentação ambiental ficou às moscas.

Quanto a isso, há a promessa de que tudo será votado quando (e se) Temer assumir a presidência. Enquanto isso, ao povo brasileiro, só resta cantar. O que será, que será…

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