É morrendo que se vive a vida eterna

Ele sonhava ser herói por um dia. Virou herói para a posteridade. Seu nome era Francisco, que, como tantos outros Chicos desse mundo, era invisível no meio da selva de pedra. Com a igreja da Sé como plano de fundo, decidiu por instinto salvar uma vida de uma desconhecida e, tal qual o santo que lhe batizou, renunciou à riqueza, ao bem que tinha mais precioso: sua vida.

Perdera o filho, orgulho de vida, em uma briga de torcidas. Dele sentia muita saudade e a dor o levou a mudar, fazer da rua seu lar, da bebida sua cúmplice e dos seus vizinhos de rua, parceiros no sofrimento de dias e noites sem teto. Mesmo assim, não esquecia de seus outros rebentos, dos quais, mesmo de longe, procurava saber notícias.

Mesmo tendo seus pecados impressos em ficha corrida, Francisco também era santo. Pai de Santo, como seus parceiros de cruz o chamavam, sempre tinha palavra de conforto para aqueles que, nos parcos instantes em que saiam da invisibilidade, se tornavam alvo de chacota, de agressões, de humilhações, da mesma penitência de São Francisco, marco da fé e da simplicidade em homenagem ao Cristo pobre, casto, humilde e obediente.

Somente um pecador que é puro em sua alma poderia abrir mão do máximo bem que tinha em mãos para salvar a vida de uma desconhecida que, com a personificação do mal à sua cabeça, implorava por um milagre, por uma salvação da morte iminente. Foi o milagre de Seu Francisco que, como tantos outros, estava na praça admirando arte quando foi chamado à missão que sempre soubera ser destinado. “Antes de eu morrer, vou ficar para a história e ser herói aqui na Sé”, dizia a quem não o tratava como oxigênio em meio àquela selva.

Em meio aos anjos de cinza, Francisco, que viu à luz do mundo em Ribeirão Pires, não titubeou: partiu em defesa da alma em perigo que lutava por sua vida a fim de cumprir sua escrita. Como um anjo, apareceu. Como santo, afastou o mal. Como mártir, teve a chance de cumprir sua escrita. Tá lá um corpo estendido no chão com um disparo certeiro no peito, virando santo por saber morrer. Mas orgulhoso de ter deixado de ser invisível e ter cumprido sua missão, como Francisco em sua oração: “é morrendo que se vive para a vida eterna”. Amém.

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