De volta à escola

Por Luiz Gonzaga Bertelli Presidente executivo do CIEE, da Academia Paulista de História (APH) e diretor da Fiesp

Como são inúmeros os dados provenientes do Censo de 2010, algumas constatações passam despercebidas, mas são bastante relevantes para compreender a realidade educacional brasileira. Um desses dados significativos mostra que, em 2010, 11% dos universitários do país já eram formados e estavam fazendo uma segunda graduação. A grande parte desses estudantes é do Sudeste. Para isso existe uma explicação, já que essa é a região com o maior número de empregos da economia formal, principalmente pela presença das duas maiores regiões metropolitanas do país, São Paulo e Rio de Janeiro.

Dos estudantes que estão na segunda graduação, o curioso é que 30,1% têm mais de 40 anos, uma faixa etária bem mais avançada do que aqueles que entram para a primeira graduação, em torno de 20 anos. O levantamento do IBGE mostra ainda que 13,2% deles fizeram a primeira graduação numa instituição pública federal ou estadual, sendo assim, um contingente qualificado, já que as universidades públicas estão entre as melhores do país, com grande concorrência em seus vestibulares.

As hipóteses para essas constatações numéricas estão ligadas principalmente ao competitivo mercado de trabalho. Hoje, com o desenvolvimento da tecnologia, os profissionais, mesmo empregados, precisam evoluir para acompanhar os avanços. O que é novidade hoje pode envelhecer em um curto espaço de tempo. Quem se formou há 10 anos é obrigado a voltar a estudar – seja num  curso regular, seja como autodidata – para se reciclar, sob o risco de ser excluído das melhores oportunidades ou do próprio mercado de trabalho por não dominar as novas técnicas. Além disso, a defasagem escolar fincada na premissa da divisão em três grandes áreas – exatas, humanas e biológicas – já não faz mais sentido, pois as disciplinas hoje se intercruzam. O profissional completo precisa ter noções de várias áreas de atuação. Essa é hoje uma exigência das empresas e os trabalhadores já graduados conscientes da nova realidade buscam complementar as disciplinas que não dominam. Os números do IBGE vêm confirmar, portanto, a necessidade de uma ampla reforma nas diretrizes do ensino superior, para que o conhecimento se torne mais próximo da realidade do mundo do trabalho.

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