Crise no São Paulo mostra: o futebol imita a vida

Inegavelmente, o futebol é o esporte mais popular do mundo. Alvo de paixões e discussões, não é raro ver estudos sobre o porquê de a modalidade ocupar este posto. Um dos palpites é que, dentro e fora das quatro linhas, ele reproduz a vida.

Na última semana, um escândalo de proporções épicas fez com que o São Paulo Futebol Clube, um dos clubes mais populares do Brasil ganhasse manchetes de forma vergonhosa. Outrora pintado como “clube mais organizado do país” ou um “pedaço da Europa no futebol brasileiro” (com a licença poética do complexo de vira-latas que infesta o país há anos), mostrou da forma mais vil que é um clube como qualquer outro da nossa arcaica estrutura.

Se antigamente, nos tempos de Laudo Natel, o clube era gerido por “lordes e cardeais”, que resolviam suas brigas da porta para dentro, reservando os sorrisos e tapinhas nas costas para o mundo exterior, hoje vemos as entranhas do “Mais Querido” expostas como nunca antes visto.

Em que se pese o fim de “agrados” que convenciam a “imprensa” a não divulgar certos fatos, o clube é alvo de escândalo envolvendo corrupção, desvio de recursos, caixa 2 e favorecimentos tendo como personagem principal Carlos Miguel Aidar, advogado de renome e ex-presidente da OAB, que reassumiu o comando do clube – após 30 anos afastado – com a promessa de entrar para a história do futebol.

Resumindo, o mandatário admitiu ao vice-presidente – na tentativa de convidá-lo a integrar o esquema – que, junto a sua namorada (contratada como consultora do clube), recebera propinas para fechar negócios envolvendo transação de jogadores e contratos, como o da fornecedora de uniformes, Under Armour, relato esse gravado e documentado por e-mail. Para piorar o vexame, houve troca de socos em um hotel de São Paulo, com direito a posterior isolamento e linchamento público do presidente. Sem saída, na última terça, renunciou para (tentar) evitar o impeachment e a divulgação pública da história. De outro lado, calado, quem sofre é o clube que teve sua imagem jogada à lama e irá levar anos para fazer o vexame virar uma triste página em sua história.

A história lembra muito o que acontece na política brasileira permeada de propinas, subornos, estranhos acordos de bastidores e vazamentos. Com uma boa análise e um pouco de imaginação, é possível até identificar e associar os fatos com personagens conhecidos de nosso dia a dia. Outro ponto em comum com a atualidade é o impeachment, possibilidade que o São Paulo tenta afastar de toda maneira sob alegação de que o objetivo, a deposição de Aidar, já foi alcançado e que isso traria ainda mais prejuízos, já que seria um processo longo e demorado que travaria o clube por alguns meses.

O raciocínio é simples: sem comando, o clube não anda e importantes negociações ficariam em pausa, já que todas as atenções se voltariam a esse processo tornado, por exemplo impossível por exemplo negociar contratações de jogadores e renovações com fornecedores, uma vez que ninguém poderia confiar na assinatura de um presidente que está para cair. Em cenário mais amplo, os concorrentes ganhariam corpo e vantagens contra um rival combalido e mais preocupado em lamber as próprias feridas podendo causar em escala maior até mesmo um rebaixamento. Parece ou não parece um lugar que conhecemos bem? É, de fato o futebol imita a vida…

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