Brasil, o país do encalhe

Destaque: aos poucos, o consumidor está aprendendo que é ele quem regula o mercado

Na semana passada, neste mesmo espaço, falamos sobre a bolha econômica que poderia estourar por conta do aumento excessivo do custo de vida, puxado pelo aumento da renda. Em dado momento, citamos a questão dos Ovos de Páscoa, que tiveram, em dez anos, um aumento muito superior à inflação do período.

Passada a euforia dos chocolates, nota-se que a população brasileira deu uma resposta digna ao aumento de preços simplesmente se recusando a pagar os preços exorbitantes cobrados pelas iguarias no período. Por todo o Brasil, os relatos provam que houve um grande “encalhe” entre os varejistas, que ainda tentam, com o perdão do trocadilho, desovar seus estoques o mais rápido possível apelando para descontos e promoções do tipo “leve dois pague um” a fim de conquistar os consumidores e evitar um prejuízo ainda maior com a destruição dos ovos, procedimento obrigatório para produtos que forem recolhidos após ficarem expostos por longos períodos. Considerando que a expectativa dos fabricantes era de um incremento de 12% nas vendas em relação a 2012, o resultado foi, para dizer o mínimo, frustrante, já que relatórios extra-oficiais apontam um doloroso oposto: queda de 40% a 50% nas vendas. Em números absolutos, dos cerca de 80 milhões de ovos que chegaram a lojas, entre 30 e 40 milhões ficaram sem compradores.

A culpa, para o consumidor, está nos preços extremamente altos deste ano. Os lojistas, por sua vez, tentaram culpar o calendário, alegando que o fato de a Páscoa ter caído em fim de mês e em data mais próxima ao Natal que o habitual prejudicou as vendas, “esquecendo” dos valores cobrados do consumidor. Vale ressaltar que cacau e açúcar, duas matérias primas básicas do produto, tiveram seus custos reduzidos na ordem de 10% a 15% nos últimos doze meses.

Considerando a crise econômica mundial, é fácil concluir que os motivos apresentados pelo elo mais fraco da corrente, o consumidor comum, representam a realidade. Basta observar outros ramos. No ano passado, em um curto período de tempo, tivemos dois grandes shows em São Paulo, de Madonna e Lady Gaga. Apesar da expectativa e da qualidade, ambos tiveram seus extorsivos ingressos encalhados a ponto de terem sido distribuídos gratuitamente na porta do estádio do Morumbi (local das apresentações) para não sobrarem tantos lugares vazios. Recentemente, outro show, do The Cure, foi retirado do estádio da Vila Sônia para um lugar menor, o Anhembi, para diminuir os custos de produção e carga de ingressos. Os exemplos do showbiz também se aplicam a outros ramos, como o bancário, cujas instituições foram obrigadas a diminuir as tarifas para tentar estimular o uso de seus serviços (e a migração para a concorrência) pelos clientes.

Mais do que a falta de dinheiro, a sequencia dos fatos mostra que, aos poucos, o consumidor está aprendendo que é ele quem regula o mercado. Se quem detém o dinheiro se recusa a adquirir, naturalmente o preço cai. Não se deve esperar por uma ação de governo para resolver problemas que são internos à sociedade. Agir com inteligência é fundamental, ainda mais quando o que está em jogo, mais do que alguns tostões na carteira, é o bem-estar pessoal e familiar. E, porque não, o próprio futuro do Brasil. Que este seja o primeiro capítulo de uma nova ordem econômica, para o bem de todos.

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