Após protesto, Ribeirão Pires vira praça de guerra

Um ato que começou pacífico e terminou em guerra. É dessa forma que podemos classificar o protesto realizado ontem em Ribeirão Pires. Agendado via Facebook, tinha como intenção principal a melhoria da qualidade e do preço cobrado no transporte público na cidade mas acabou por transformar o Centro da cidade em uma praça de guerra.

Protesto reuniu cerca de 2000 pessoas e começou de forma pacífica

O início foi relativamente tranquilo ainda que a concentração, realizada em frente à Rodoviária, tenha interrompido o tráfego de ônibus fazendo com que motoristas e passageiros tivessem que aguardar nos coletivos pela liberação do tráfego e que tenha acontecido algum desconforto na negociação com a Polícia Militar em relação ao trajeto, uma vez que as pessoas que estavam a frente do movimento pareciam mais preocupadas em ressaltar que “não havia liderança”, o que dificultou a conversa.

Resolvidas as pendências, a passeata, que chegou a contar com cerca de 2000 pessoas, atravessou o Centro, que estava com suas lojas fechadas desde as 15h, passando pela Rua Felício Laurito e, depois disso se dividiu em dois grupos, um que caminhou pela João Domingues de Oliveira e outro, mais exaltado, que seguiu rumo a Padaria Empório dos Pães. Este segundo grupo, inclusive, chegou a fazer um ônibus voltar em marcha a ré para a Avenida Francisco Monteiro e também obrigou alguns passageiros de outro coletivo a descerem. Em ambos os grupos, o principal brado era contra o prefeito, cobrando presença maior na cidade, questionando a qualidade da gestão até aqui e também na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) que, segundo os manifestantes, não tem médicos e remédios.

Depois, parte do protesto seguiu pela Rua Miguel Prisco e outra pelas avenidas Fortuna e Brasil, se encontrando em frente ao relógio e a Avenida Brasil, quando foram vistos os primeiros focos de vandalismo, contra os coletores de material reciclável instalados em frente ao supermercado Dia, prontamente contido pelo grupo aos gritos de “sem vandalismo”. O grupo seguiu pela Avenida Capitão José Gallo, Humberto de Campos e voltou pela estação de trens, voltando à prefeitura.

Vereadores Paixão e Banha tentaram, sem sucesso, negociar com manifestantes

Fúria Incontida – A partir daí, a situação começou a fugir do controle. Os manifestantes cercaram o Paço Municipal, cobrando a presença do prefeito, que estava no prédio. Enquanto isso, uma comissão formada pelos organizadores do movimento, Bruno Menezes e Bruna Lemos, entregou uma pauta de revindicações que, segundo o primeiro será atendida pelo prefeito Saulo Benevides, com 20 novos médicos atendendo na UPA de forma imediata e outras que serão analisadas nos próximos dias, como passe livre de duas horas, revisão de itinerários e diminuição de intervalos de ônibus, além de extensão do serviço até 1h da madrugada, hora em que chega o último trem a cidade.

Entretanto, talvez por inexperiência da organização, os manifestantes somente souberam do encontro quando ele já havia sido concluído. Resultado: a passeata se tornou um barril de pólvora pronto para explodir. Alguns questionavam a comissão, inclusive questionando a idade dos participantes. Outros não se sentiram representados e passaram a exigir uma reunião com o prefeito. Ele aceitou, desde que fosse formada uma comissão com sete pessoas, numero esse elevado posteriormente a dez. Prova disso é que, quando a ata chegou e um dos manifestantes tentou lê-la, outro a tomou de suas mãos e a rasgou.

A fúria incontida era tão grande que nem mesmo as presenças do presidente e vice da Câmara Municipal, Paixão e Banha, foram suficientes. Ambos foram hostilizados pela multidão sendo que Banha, inclusive, chegou a ser agredido com um tapa no rosto ao tentar negociar. Alguns Guardas Municipais que tentaram uma solução pacífica também foram hostilizados.

A medida que o clima esquentava, as pessoas que levaram o movimento de forma pacífica foram deixando o local, restando alguns que, repetidamente tentavam incitar os outros a invadir o Paço e também chegaram a atirar pedras e bombas dentro do prédio municipal. Verdade seja dita, eles foram impedidos por algumas pessoas que estavam no protesto, entre eles integrantes de movimentos sociais e militantes de partidos políticos que tentaram achar um ponto comum, propondo aos manifestantes a realização de uma audiência pública posteriormente. Entretanto, não agradou a alguns que não abriam mão de um encontro imediato com o prefeito.

Bombas de gás lacrimogêneo foram usadas para dispersar manifestantes após tentativa de invasão ao Paço

Faixa de Gaza – E, exatamente às 21h42, quando restava cerca de 5% do público original, o barril de pólvora explodiu. Insatisfeito com o impasse um grupo que continha algumas pessoas nitidamente alteradas por uso de álcool (e drogas) iniciou uma contagem regressiva e, com voadoras, tentou quebrar o portão principal do Paço. A Guarda Civil Municipal, agindo com precisão, usou bombas de efeito moral e spray de pimenta para afastar os manifestantes que começaram a atacar as lojas da região, danificando portas e atacando os policiais militares com pedras e até mesmo uma planta que ornamentava a fachada do Shopping Garden.

A Polícia Militar, que acompanhava de perto, agiu, entrando em confronto direto com os manifestantes que se espalharam pelo Centro. Em uma verdadeira cena de guerra, explosivos e bombas de gás lacrimogêneo foram jogados para afastar o tumulto, mas os “revoltados”, munidos de pedras e bombas caseiras, revidaram, tentando depredar a Vila do Doce antes de serem completamente dispersos.

Entretanto, as portas da loja Insensatez, da videolocadora Scalla, e do Shopping Duaik foram arrombados, sendo que o último recebeu reforço policial para a noite. Além disso, os vidros da agência do Bradesco foram apedrejados, uma lixeira foi incendiada, um policial militar foi ferido por uma pedra no braço direito e um GCM, alvo de garrafada, teve que ser internado na UPA. Não há notícias de manifestantes feridos.

Com tudo isso, é seguro dizer que o saldo final foi triste. Mesmo o grupo inicial tendo levado a pauta de reivindicações ao prefeito, faltou um comando central ao movimento para evitar excessos. Desta maneira, uma manifestação que começou com apoio da população que até mesmo colocou suas bandeiras do Brasil na janela quase entrou para a história da cidade de outra maneira: como uma grande tragédia.

Segundo informações, um novo ato estaria sendo programado para a próxima terça-feira. Espera-se que desta vez com mais ordem.

Autoridades comentam – Findo o protesto, algumas autoridades comentaram sobre o que aconteceu. O vereador Gê do Aliança (PV) afirmou que “defende o direito democrático ao protesto, mas não concorda com atos de vandalismo”. Já o secretário de governo Koiti Takaki disse que “o prefeito está sempre aberto a ouvir reivindicações das pessoas, desde que seja de forma pacífica”. Quanto a audiência pública solicitada, afirmou que Saulo “caso uma comissão seja montada, está a disposição para recebê-la”.

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